O divórcio do Flamengo e Ronaldinho Gaúcho foi melancólico e litigioso, mas ninguém deve se surpreender com o desfecho.
No verão de 2011, debaixo de um sol escaldante, Ronaldinho subiu a um palco improvisado no campo da Gávea. Mesmo vestido de modo espalhafatoso no melhor estilo rapper, mal se via o atleta, completamente rodeado por dirigentes, torcedores profissionais, artistas e bicões de toda a sorte.
Com a Nação Rubro-Negra em festa, ninguém se lembrou de colocar no papel aquilo que havia sido combinado na longa negociação. Segundo se divulgou na imprensa, o clube arcaria com cerca de 20% da milionária remuneração, cabendo os 80% restantes a uma empresa de marketing esportivo, em troca da exploração de patrocínio.
Não demorou muito para surgirem divergências entre os três vértices desse triângulo amoroso - o clube, o atleta, a empresa de marketing. Sem nada escrito, fica mesmo difícil se lembrar de todos os detalhes combinados. O desencontro foi a senha para que a empresa de marketing abandonasse o projeto e deixasse a conta inteira para o Flamengo.
Como se sabe, nada é tão ruim que não possa piorar. O Flamengo, mesmo sem refletir sobre o tremendo impacto financeiro que o salário do jogador representaria no seu caixa, assumiu o compromisso de pagar, sozinho, a maior remuneração de todo o seu centenário futebol. Claro que deu errado.
Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão. Como previsível, faltou dinheiro para honrar um pagamento tão elevado. O jogador, que tinha um comportamento rebelde, se sentiu ainda mais livre para fazer o que bem entendesse, sem qualquer preocupação com o seu desempenho esportivo. A torcida, que antes o recebera eufórica, canalizou sua ira pelos insucessos no terreno desportivo para o astro insolente, que parece rir de tudo.
E assim, na Justiça, o sonho acabou.
Que lições tirar do episódio trágico?
Que nenhuma decisão deve ser tomada sem reflexão, sem critérios, sem planejamento e principalmente sem contrato. Que bastaria o clube ter tido o mínimo de cautela, para redigir os contratos devidos, fazer a previsão orçamentária e planejar o desenrolar dos acontecimentos simulando os cenários otimista, realista e pessimista, para só então, depois de tudo assinado e aprovado por quem de direito, fazer a festa devida.
Torcedores podem ser fanfarrões, se deixar contaminar pela euforia. Dirigentes, jamais. Por isso, que ao menos essa ressaca nos sirva de exemplo: nada de misturar emoção com gestão. O Flamengo precisa de um choque de gestão profissional, para deixar o lado torcedor que todos temos bem longe da tentação de agir segundo nossos desejos e devaneios.
Por
Walter Monteiro e Affonso Romero
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