sábado, 7 de julho de 2012

FLA x FLU: UMA VIAGEM CENTENÁRIA PELO TEMPO

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!



Estamos aqui reunidos para contar mais uma parábola, trata-se da história de um cientista chamado Albert* e sua máquina do tempo. 

Albert cresceu escutando acalorados debates entre seu avô tricolor e seu pai rubro-negro à respeito do Fla x Flu. Talvez por isto tenha optado pelo caminho da ciência e deixado a magia do futebol um pouco de lado. Quando lhe perguntam qual é o seu time, ele sempre responde que é Fla x Flu e se se afasta de qualquer papo mais aprofundado.

Sua dedicação à ciência e sua inteligência lhe renderam diversos prêmios. Porém, sua principal descoberta seria aquela que tinha acabado de fazer. Depois de anos de árduo trabalho, Albert finalmente conseguiu inventar uma máquina do tempo, através da qual seria possível voltar ao passado na qualidade de observador e acompanhar feitos históricos. Estava fascinado e logo pensou em uma série de acontecimentos que gostaria de presenciar. Pelos seus cálculos, o recuo temporal máximo permitido pelo equipamento seria de cem anos. Também, não daria para viajar no espaço, ou seja, para outros locais. Teria, então, que pensar em acontecimentos realizados na cidade do Rio de Janeiro.


Depois de se imaginar observador ilustre da cena política no antigo distrito federal, ele se deu conta de que ao voltar um século, poderia retornar para 1912, ano de nascimento de seu avô. Isso o fez querer testar o "seu novo brinquedo" com a história de sua própria família que se confundia com a do clássico mais charmoso do Brasil.

Albert, então, entrou no estranho aparelho que inventara, rodou uma manivela, apertou um botão e começou a girar... a girar...cada vez mais rápido. Quando já estava ficando tonto, o equipamento voltou ao seu ponto de equilíbrio. Uma janela se abriu e ele pode ver imagens de um Rio de Janeiro que não existe mais. Observou a elegante indumentária de homens e mulheres caminhando por paisagens urbanas que só conhecia por fotos. Ninguém parecia notá-lo. A impressão era realmente de estar em outra dimensão. Aproveitou e se dirigiu até o bairro das Laranjeiras, à então Rua Guanabara, atual Pinheiro Machado, onde seria realizado o primeiro Fla x Flu da história.


No caminho, pensava na fundação do Flamengo. Seu avô Nélson se gabava de dizer que o Fluminense era o pai do Flamengo. No entanto, completava dizendo que se tratava de um filho desvirtuado, que teria perdido o glamour da família tricolor. Já Mário, seu pai, lhe dizia para não dar ouvidos. Que a história não era bem assim. Pelo contrário, o departamento de futebol do Flamengo havia sido criado por jogadores que vieram sim do Fluminense, mas que também eram remadores do Flamengo e o fizeram por discordar de uma medida da comissão técnica tricolor de substituir o atacante Alberto Borgeth por um zagueiro. Ou seja, o Flamengo já fora criado sob espírito de uma revolução e da ousadia. O Flamengo já no seu início mostrava que não eram os cartolas que deveriam ser o núcleo do jogo. Também, nascera por ser contra a retranca. 

Para aquele jogo, o recém-criado Flamengo era franco favorito. Afinal se tratava de praticamente todo time titular que havia sido campeão carioca no ano anterior pelo agora rival Fluminense. Os resultados anteriores confirmavam o favoritismo, já que o rubro-negro havia feito 30 gols nas quatro primeiras rodadas O jornal "O Paiz" publicava que "A equipe do Flamengo vinha de tal forma organizada que por todas as razões se impunha a sua vitória". Porém, na partida que começou exatamente às 15:55h do dia 07 de julho de 1912, os jogadores tricolores jogaram com brios e demonstraram que não há favoritismo em clássicos e venceram por 3 a 2, com o primeiro gol saindo logo no minuto inicial e o gol final no último minuto, logo após o empate do Flamengo. Que belo começo!


Albert viu a festa nas arquibancadas, porém feita por um pequeno público, como era comum naqueles tempos anteriores à popularização do esporte bretão. A baixa popularidade também ficou demonstrada nos pequenos espaços dados pelos jornais no dia seguinte ao primeiro Fla x Flu. A Gazeta de Notícias, por exemplo, apenas informou que "o team tricolor apresentou-se bastante treinado e desenvolveu um jogo acima das expectativas". E mais nada!



Albert lembrou-se do avô que dizia que "se o Flamengo tivesse ganho o primeiro jogo, a rivalidade morreria ali, de estalo. Mas a vitória tricolor gravou-se na carne e na alma flamengas. E sempre que os dois se encontram é como se fosse a primeira vez". Com este pensamento, decidiu-se por repetir a dose. Não quis assistir ao jogo seguinte, onde o Flamengo honraria o favoritismo e aplicaria um impiedoso 4 x 0 no Fluminense. Assim, do ano do nascimento de seu avô partiu para o de seu pai. Em 23 de novembro de 1941, assistiu a mais um Fla x Flu, desta vez no estádio da Gávea.

Naquele jogo, o Fluminense que jogava pelo empate fez 2 x 0. Ainda no primeiro tempo, o Flamengo descontou com Pirilo. O mesmo jogador fez o gol do empate aos 38 minutos da etapa final. A partir daí, o que se viu foi uma enorme pressão do time rubro-negro e o Fluminense começou a apelar para a catimba e a chutar a bola do estádio para a Lagoa Rodrigo de Freitas, em frente. Estupefato, Albert assistiu o jogo ser interrompido por falta de bolas. Enquanto se discutia o que se faria, remadores do Flamengo foram até a Lagoa e trouxeram as bolas. O jogo continuou por mais 12 minutos, mas o Flamengo não conseguiu o empate.

Albert começava a gostar e se interessar realmente pela mística do Fla x Flu. Não é que seu avô Nélson tinha razão quando dizia que "cada jogo entre o Flamengo e o Fluminense parece ser o maior do século e assim será eternamente".

O Fla x Flu começou realmente a fazer a cabeça do cientista. Albert então ligava sua poderosa máquina e partia rumo a outras memoráveis partidas. Ali de sua dimensão teve a honra de ver surgir heróis e vilões. Se apertou no Maraca no ano de seu nascimento assistindo o jogo com o maior público da história do futebol brasileiro, quando 194.603 pessoas (com ele, agora, havia uma a mais, que não foi contabilizada) foram ao Maraca ver a final do Carioca de 1963. Relembrou ao vivo e a cores do Assis e do Renato Gaúcho sendo carrascos do Flamengo e do Zico, em companhia do Sócrates, detonando o Fluminense, após ser chamado de "bichado" pela torcida adversária e até do Bottineli mandando dois balaços contra o tricolor. Viu jogos emocionantes serem decididos no final, como também históricas viradas, sem contar as goleadas.

Fora dos gramados, o Fla x Flu chama tanta atenção quanto dentro. Ali viu sofrimentos, gritos de gols entalados na garganta, vibrações, abraços, choros. Além do colorido das bandeiras na arquibancada. Todo jogo é uma festa. Incrédulo, observou, privilegiadamente, seu avô dizer que a alegria rubro-negra não se parecia com nenhuma outra, que era diferente. Também viu Mário, seu pai, dizer numa arquibancada lotada que o Flamengo era o clube mais amado do Brasil porque se deixava amar à vontade. Mas, a citação que mais lhe chamou a atenção foi dita por um tricolor chamado, como soube depois, Cláudio Lambert, após uma virada do Flamengo por 4 x 3 em 2004. Um jogo em que o Flamengo com time inferior arrancou a vitória na raça e no grito vindo da torcida. Cláudio virou para o seu filho e, tentando explicar o acontecido, disse: "23 minutos e mesmo perdendo por 3 x 1, aquela massa do outro lado não parava de pular, ninguém saia do seu aperto, ninguém ia embora. Aliás, eles nunca vão embora, nem arredam o pé. Eles não se sentam, não param de gritar. Eles não sossegam. Eles acreditam mais do que os outros. Eles jogam com 12. E jogar com 12 deveria ser proibido!"

Albert então notara que seu pai e seu avô tinham razão. Quanto tempo ele desperdiçou ao não se entregar a Magia do Futebol, do Fla x Flu. Felizmente, ele havia inventado uma forma de recuperar esse tempo perdido. Assim, pela última vez naquela dia ele resolveu rodar a manivela e apertar o botão. Girou até voltar aos dias atuais e ir garantir seu ingresso. Ao voltar ao passado, compreendeu o presente e resolveu que, dali em diante, ele também ajudaria com seus gritos a fazer parte da história.

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E a pergunta que não quer calar: afinal em que torcida Albert irá acompanhar o Fla x Flu deste domingo? Fiquem com as palavras do próprio cientista ao garantir seu ingresso:

"Viavaaa! Ingresso na mão! Em qual setor? Ora, sabem o que consegui observar em minhas viagens pelo tempo? Que este é o clássico que os tricolores mais gostam e sabem o verdadeiro motivo? É por que podem assistir à festa rubro-negra. Perdendo ou vencendo, o espetáculo ocorre do outro lado e eles podem ver de frente. Então, eu afirmo que não nasci para ser voyeur. Faço questão de ser protagonista e por isto que estou com meu Leste Superior nas mãos. Vaaaaamooooos Flamengo....."

E você? Se você inventasse uma máquina e pudesse rever um Fla x Flu, qual seria?

FLAmém!

* Os personagens tiveram seus nomes escolhidos como forma de homenagem:

  1. Albert é referente ao Albert Einstein, cuja Teoria da Relatividade forneceu a sustentação teórica para que diversos autores de ficção científica soltassem a imaginação e explorassem o tema da viagem pelo tempo, em diversos filmes e livros.
  2. O tricolor Nélson e o rubro-negro Mário homenageiam os irmãos Nélson Rodrigues e Mário Filho(que dá nome ao Maraca). Além dos nomes, o artigo acima pega carona em muitas das frases de autoria da dupla, cujos textos eternizaram a beleza do centenário clássico.

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