sábado, 2 de março de 2013

O Desejo, a Viagem e a Magia Rubro-Negra

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!

Irmãos, estamos aqui reunidos em nome do nosso ídolo maior. Para comemorar os 60 anos do Zico, o Magia Rubro-Negra, presentou-o com um livro com texto de todos os colunistas. Abaixo segue um que fiz como introdução.



Se havia algo que Arthur não se conformava era não ter visto Zico jogar. Foi nisto que ele pensou naquela tarde do dia 02 de março de 2013, quando comemorava 19 anos, pouco antes de soprar as velinhas de seu bolo de aniversário. Aos escutar sua avó dizendo para ele fazer o tradicional pedido, pensou: "gostaria de voltar no tempo e acompanhar toda carreira do Zico".

Obviamente, tinha sido batizado em homenagem ao ídolo. Nascera na véspera do aniversário do Zico ou do Natal Rubro-Negro, como gostava de dizer, justamente no ano em que o Galinho de Quintino, lá no outro lado do mundo, pendurou definitivamente as chuteiras.

Naquela noite, o jovem rubro-negro foi repousar pensando na carreira do Zico e no pedido que fizera. Justo ele tão cético com essas coisas. "Crendices bestas da vovó" pensava. Mas, não entendia porque, dessa vez, deitado na cama, pronto para dormir, ele não deixava de pensar que perdeu um pedido para brincar com seus próprios desejos. Devia ser reflexo da emoção que sentiu na inauguração da estátua do ídolo pela manhã.

Enquanto pensava, sentiu uma mão lhe tocar. Olhou e assustado viu um menino louro de asas fazendo-lhe sinais. De supetão, sentou-se na cama, esfregou os olhos e se beliscou para acordar. Nada aconteceu e o anjinho continuava ali.

"Não é possível!" exclamou enquanto imaginava que estava ficando maluco. Sem ver o anjo mexendo as bocas, escutou uma voz lhe dizer: "Vamos logo, Arthur! Não tenho o dia inteiro. Temos que viajar no tempo".

Nem teve tempo de discutir com o que julgava ser uma alucinação sua. Uma espiral vermelha e preta apareceu em sua frente, no meio do ar, na altura de seus olhos e começou a girar, a girar, a girar... cada vez mais rápido. Nem teve tempo de refletir sobre o que estava acontecendo. Foi sugado pela imagem e começou a gritar.

Caiu sentado numa calçada de um subúrbio. "Onde poderia estar?", questionava a si mesmo. Estranhou o jeito de vestir das pessoas. Parecia estar assistindo um filme antigo. Enquanto tentava entender o que tinha acontecido, ouviu uma voz suave que lhe soou familiar.

- Arthur, sabe que dia é hoje?

Era o anjo. Mas, antes que ele pudesse responder que era dia de seu aniversário, a criatura alada lhe avisou que estavam no dia 03 de março de 1953 e completou perguntando se ele sabia que dia era esse.

"Como assim?", pensou Arthur. Não podia ser verdade. O jovem não estava acreditando em sua sorte. Olhou para o relógio e viu que marcava 7h da manhã. Era a hora e o dia em que Zico nasceu. Agora, entendia tudo. Estavam em Quintino. Mais precisamente em frente à casa 7 da rua Lucinda Barbosa.

Afobado e nervoso, correu para a casa. Lá viu 5 crianças e um senhor. Só poderia ser o Seu Antunes, pai do Zico. Quase sem voz pela emoção, tentou chamá-lo, mas ninguém o escutava. O anjo, então, lhe comunica que estavam em uma dimensão diferente. Não seria possível interagir.

Escutaram um choro de criança e os gritos de "nasceu". A alegria tomou conta da casa e ele não se continha em si mesmo. Estava ali com Seu Antunes, Dona Matilde, Zezé, Zeca, Nando, Edu, Tunico, o bebê Zico e a parteira, Dona Marta. Estava presenciando o Natal Rubro-Negro. Ao vivo! Incrível! Extraordinário! Emocionante!

Ao escutar o anjo estalar os dedos, o jovem Arthur viu o tempo passar rapidamente como se estivesse adiantando um filme que estava assistindo. Pode acompanhar o bebê virar menino, ser chamado de Arthurzico e, logo depois, apenas Zico. As quatro letras, que por si só, trazem emoção a qualquer torcedor do Flamengo.

Apesar de franzino, Zico era forte e saudável. Não teve nenhuma das doenças comuns às crianças da época. A família atribuía isto ao fato de ter sido amamentado até quase os 6 anos de idade.

Assim, Arthur viu seu xará famoso crescer. Teve a oportunidade de acompanhá-lo em peladas nas ruas e na quadra de futebol de salão que seria construída nos fundos do terreno da casa onde a família Coimbra morava. A habilidade do garoto já impressionava a todos ali. Escutou o padrinho dele, Augusto Leite, falando que o menino seria um craque, um dos melhores do mundo, se virasse jogador de futebol.

O filme da vida de Zico continuava passando para o Arthur como se ele estivesse dentro de cada cena. Era incrível! Assim, viu Antunes (Zeca) e Edu virarem jogadores. Ótimos jogadores, aliás.

Praticamente de camarote assistiu o futebol de Zico chamar tanta atenção quanto o corpo franzino causava desconfianças. Levado para o Flamengo pelo radialista Celso Garcia, o jovem e o anjo puderam acompanhar as dificuldades daquele menino em atravessar a cidade indo de Quintino à Gávea para treinar e ainda ter que estudar como exigia a família.

Também, viu algo que seu pai não tinha lhe contado na história de Zico. Por causas das dificuldades em ir para a Gávea, sem o Flamengo bancar a alimentação, quase que o futuro craque foi parar no Vasco. A salvação aconteceu graças a George Helal que resolveu custear sua alimentação e exames médicos necessários para fazê-lo ganhar corpo.

A viagem pela linha de tempo mais importante da história rubro-negra continuava acontecendo. Estavam em 1970, no Maracanã. Tratava-se do primeiro jogo do Zico no estádio. No jogo principal, aconteceria a despedida de Carlinhos dos gramados, de quem recebeu um par de chuteiras, num gesto simbolizando a passagem de bastão.

O Arthur viu de perto o trabalho de uma equipe médica, sob comando do Dr. José Roberto Francalacci, na implantação de um inovador programa de desenvolvimento físico, com o qual, nos anos seguintes, Zico ganharia 6 centímetros e nove quilos.

O anjo continuou estalando os dedos, o tempo passando e Arthur podendo viajar pelo tempo realizando o sonho de acompanhar a carreira de Zico. Foi desta maneira que viu o Galinho de Quintino, apelido que seria dado por Waldyr Amaral, subir e voltar para a base, não ser convocado para as Olimpíadas de Munique, ir finalmente conseguindo se firmar no time principal e se tornar o principal jogador de um esquadrão que tudo conquistou. Em histórias que serão narradas com mais detalhes nas demais páginas desse especial do Magia Rubro-Negra, que também contará a emoção de colunistas-torcedores com o que Zico representou para cada um.

Assim, o nosso Arthur estava emocionado, podendo acompanhar tudo com que sempre sonhou. Chorou com a saída de Zico para a Itália, com o pênalti perdido na Copa e se derreteu em lágrimas na despedida no dia 06 de fevereiro de 1990 no Maracanã. Sentiu a emoção de cada um dos 90 mil presentes. Pode ainda ser testemunha do seu recomeço no Japão e do novo sucesso ao conseguir desenvolver o futebol em terras orientais.

Até que foi chegando o ano de seu próprio nascimento, 1994, quando viu Zico se despedir de vez dos gramados e, para brindar a emoção que via o jovem sentir, o anjo permitiu que ele conseguisse pegar um chaveiro do Kashima Antlers como recordação, que colocou no bolso.

O anjo avisou que estariam voltando e novamente viu a espiral vermelha e preta. Foi se sentindo com sono enquanto era transportado por um túnel no espaço. Até que sentiu uma mão lhe balançando.
- Acordaaaaa, Preguiçoso! Venha almoçar para irmos ao jogo. Acoooooorda, Arthur! Já está tarde. Dormiu demais, rapaz!

Era um vizinho e amigo com quem iria ao Engenhão neste dia em que Zico faz 60 anos para juntos assistirem a semifinal da Taça Guanabara. "Teria sido tudo um sonho, então? Mas, parecia tão real!".

Quando já se preparava para contar seu sonho ao amigo e à família, ele coloca a mão no bolso e encontra o chaveiro do Kashima. Sorri! Olha para os céus e agradece em silêncio. Agora, era um rubro-negro realizado. Finalmente, se sentia completo. Tinha assistido Zico jogar.



 FLAmém!

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