quarta-feira, 25 de abril de 2012

SÓCIO TORCEDOR, MITOS E CRENÇAS - por Walter Monteiro

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!

Por motivos particulares, precisei me afastar temporariamente do blog. No entanto, você, leitor, sairá ganhando neste período. Publicarei aqui, sempre às quartas-feiras, uma série de artigos de autoria do Walter Monteiro* sobre a questão societária do C.R.F. e os programas de incentivo ao torcedor em geral, aproveitando este recesso forçado do futebol rubro-negro.
São artigos normalmente longos, para tratar o tema com a profundidade necessária e com o objetivo de evitar o lugar-comum. Trata-se de um material de altíssimo nível para reflexão e debate sobre o Flamengo. Concordando ou discordando das ideias do autor, tenho certeza de que você gostará da contribuição.
Segue o primeiro, que corresponde a um convite para discussão sobre o papel de um programa de sócio torcedor.
FLAmém!


REFLEXÕES SOBRE O FLAMENGO
PARTE 1
SÓCIO TORCEDOR, MITOS E CRENÇAS.




Com esse artigo, inicio uma pequena série de reflexões sobre o futuro do Flamengo. Normalmente os debates acerca da gestão do clube são poluídos por uma atmosfera eleitoral muito intensa, onde sobram críticas para a administração do momento e promessas de um mundo melhor para o mandato seguinte - tem sido assim há, digamos, uns 20 anos. E quase sempre quem se dispõe a propor algo está, direta ou indiretamente, comprometido com alguma corrente política do clube, está a serviço desta ou daquela candidatura.

Eu mesmo, na última eleição, escrevi um documento pomposo e pretensioso, mas inteiramente influenciado pelo meu apoio à Patricia Amorim. Dessa vez, porém, nem pretendo repetir meu apoio à Patricia, nem me empolgo com as pré-candidaturas de oposição já em movimentação. Essa certa neutralidade me dá a impressão de que posso refletir com um tantinho a mais de isenção sobre o cotidiano da Gávea e estimular que outros rubro-negros enriqueçam o debate. Abro a série com um tema que está na ordem do dia de todos os que pensam o futuro do clube: a criação de um programa de sócio torcedor.

Não conheço ninguém que seja contra a criação de um programa de sócio torcedor, mas nove entre dez flamenguistas que o defendem publicamente miram, sobretudo, a possibilidade de renovar o colégio eleitoral do clube, dando à torcida o direito de participar ativamente da vida política do CRF.

O Flamengo, todos concordamos, tem muitos e muitos problemas, mas um deles, acreditem, não é falta de democracia. Pelo contrário, o clube é um dos mais democráticos do país, porque não há qualquer restrição em se associar (afora, claro, a questão econômica, porque não é tão barato) e nem há tantos embaraços a que um interessado possa se candidatar à presidência, sem contar que todos os sócios proprietários (há mais de 5 mil) podem participar do Conselho Deliberativo, se o desejarem.

Portanto, não é democracia que falta no Flamengo, há até quem diga (equivocadamente) que há democracia em excesso.

Apesar disso, cresce a percepção de que a solução mágica para os nossos problemas (muitos problemas, não me canso de insistir) viria de uma associação em massa de um contingente de rubro-negros, todos ávidos por se associarem ao clube tão logo isso seja possível.

Lamento decepcionar essa linha wishful thinking, mas conceder direito de voto a uma nova modalidade de sócios, além de não ser tão simples, não mudaria praticamente nada no cenário político da Gávea.

Eu disse antes que quase não há embaraços para quem quer se candidatar à presidência do CRF, mas isso não significa que não haja alguns requisitos. Há dois, basicamente: ter mais de 35 anos e ser sócio proprietário há mais de 5 anos. Requisitos bem simples de serem atingidos nas condições atuais (ainda devem existir uns 3 mil títulos de sócio proprietário à venda). Estimo que haja uns 3 ou 4 mil flamenguistas aptos a se candidatarem.

Ou seja, ainda que se concedesse direito de voto aos futuros “sócios-torcedores”, eles precisariam escolher entre os mesmos candidatos de hoje em dia.

O que muda, então?

Muda que os candidatos de hoje, que fazem uma campanha para um colégio eleitoral menor, precisariam competir em um cenário muito maior. Isso tornaria a campanha eleitoral mais cara, menos acessível a quem não é milionário, mais dependente de apoios de empresários e caciques políticos, mais difícil a quem não tem articulações internas sólidas.

Em que medida isso realmente pode contribuir para uma renovação no clube?

Um detalhe que costuma passar despercebido por todos que sonham com uma mudança de rumos no clube é que o comparecimento às urnas dos sócios atuais é muito baixo, inferior a 40% do colégio eleitoral.

Quase ninguém é sócio do Flamengo para jogar tênis ou frequentar a piscina, porque para isso há opções melhores e mais em conta. Quem mantém vínculos com o clube em geral o faz por ser visceralmente ligado ao futebol. E por que ainda assim essa gente toda silencia na hora do “vamos ver”?

Uma provável resposta é que as candidaturas não empolgam e que o modo como se dá a política rubro-negra, com um rodízio entre facções internas, não estimula a quem está de fora desse círculo vicioso a participar um pouco mais. Olhar a situação e a oposição, uma falando mal da outra, é como ver um filme repetido na Sessão da Tarde, um eterno retorno, uma desesperança sem fim.

Portanto, parece muito mais simples, econômico e eficaz, ao invés de lutar por uma ilusória adesão em massa de torcedores que hoje não são sócios, somar esforços para identificar, dentre os mais de 60% de sócios ausentes, pessoas íntegras, de boa formação e desejo genuíno de colaborar, que possam, a curto prazo, representar uma mudança efetiva.
Isso não significa, claro, que se deva ser contra a um projeto de sócio torcedor. Como disse, não conheço ninguém que o seja. Só que é preciso ter em mente o que, de fato, representa um projeto desta natureza.

Para o clube, a resposta é óbvia: aumento de receita fixa. Mas não apenas isso. O sócio torcedor fornece uma base de consumidores muito útil para iniciativas mais arrojadas, como marketing one to one,  licenciamento de produtos específicos e muito mais. Em resumo, sócio torcedor, quando bem trabalhado, é uma receita adicional para o clube que, a longo prazo, pode ser até mais relevante do que, por exemplo, a venda de patrocínio nos uniformes.
E para o torcedor? A experiência mostra que o propulsor da associação é a facilidade (ou até a exclusividade) na interação com o clube, especialmente na compra de ingressos e descontos em itens oficiais e licenciados. Ninguém se associa sem receber nada em troca, por mais paixão que alimente pelo clube. É preciso que o público alvo seja induzido a participar mediante uma real percepção de que algo lhe é oferecido instantaneamente em troca de sua mensalidade.

Por último, mas não menos importante, para aqueles que ainda sonham que o Flamengo possa, em um futuro próximo ou mesmo longínquo, introduzir um programa de sócio torcedor com direito de voto direto e universal, não custa lembrar que essa medida teria que ser prevista em uma alteração dos atuais estatutos do clube, a ser aprovada pelo atual Conselho Deliberativo.

Em outras palavras, é preciso convencer os atuais sócios proprietários, que pagaram relativamente caro para ter direito de voto, a compartilhá-lo com milhares de pessoas que pagariam, pelo mesmo direito, algo como 10 vezes menos. Convenhamos, não parece uma tarefa fácil. Em política, o melhor que a gente pode fazer é lutar pelo aquilo que é possível realizar, ao invés de alimentar ilusões sobre um mundo melhor, mas claramente utópico.

Uma mudança, a curto prazo, é possível e até mesmo provável, desde que se aprenda a lutar com as armas certas, o entendimento correto. Mas estou convencido de que essa mudança nem de longe passa por inchar o colégio eleitoral – ao contrário, me parece até que seria uma decisão equivocada insistir nisso.

No próximo artigo, vou comentar alguns projetos de sócio torcedor bem sucedidos em clubes brasileiros. Nenhum deles, posso adiantar, concedeu real direito de voto aos envolvidos.

* Por Walter Monteiro - Embaixador Oficial do Flamengo no Rio Grande do Sul, sócio-proprietário do clube (mesmo morando em Porto Alegre) e escreve a coluna Bissexta no Blog Ouro de Tolo.



segunda-feira, 16 de abril de 2012

AVISO AOS LEITORES DO BLOG

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!

Quando criei este blog, o fiz pelo prazer de debater sobre nossa grande paixão: o Flamengo. Mesmo enfrentando grandes dificuldades para conseguir tempo para escrever, a vontade de Flamengar sempre falou mais alto e fui dando meu jeito. Infelizmente, não está sendo possível, neste momento, conciliar minhas atividades blogueiras com novas responsabilidades assumidas profissionalmente. Além disto, estou enfrentando um problema de saúde na família. 

Pelas razões acima, comunico a todos que não será possível manter este humilde blog atualizado. Porém não gostaria de encerrá-lo. Desta forma, pretendo fazer textos atemporais, sem relação com um jogo ou campeonato específico. Poderei publicá-lo aqui e em outros ciberespaços simultaneamente, mas sem uma data ou mesmo periodicidade de postagem pré-determinada.

Agradeço a compreensão de todos e informo que sou muito grato pelas amizades que o Flamengo sempre me proporciona.

Até qualquer hora,
FLAmém!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

VAMOS AO DEBATE: O QUE PODE SER FEITO NO CURTO PRAZO?

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!

Logo após o final do jogo no Equador, pelo meu perfil pessoal, tweetei que, tal como um urso, gostaria de hibernar e que alguém fizesse o favor de me acordar quando chegasse 2013. Com a cabeça ainda inchada, porém mais fria, vejo que se mais rubro-negros tivessem a mesma vontade, além de perdermos um dos bens mais valiosos que temos, que é o tempo, ainda acordaríamos provavelmente numa situação ainda pior.

Quem ama tem vontade de cuidar e quem cuida jamais fica indiferente. Ser Flamengo é algo permanente, é igual a ser pai ou mãe. Não dá para tirar férias. Assim, a pergunta que fica é: o que pode ser feito para mudarmos a situação atual de desrespeito ao manto sagrado no curto prazo?

Não sou a favor de iniciarmos uma "caça as bruxas", derrubando tudo e a todos. Numa inquisição, as primeiras vítimas costumam ser a justiça e a verdade. Mas, se não houver penalidades, se ninguém "pagar o pato", algo mudará? Ou todos se acomodarão com a nova realidade?

Assim, creio que as punições têm que ser simbólicas para que o corte na própria carne transmita a mensagem de que a situação atual não pode se perpetuar. A responsabilidade maior será sempre da cúpula, que representa a última instância, ou seja, é quem detém institucionalmente o poder de evitar que chegássemos ao ponto em chegamos. Porém, incompetência não é razão para um impeachment, mesmo sendo em um assunto tão sério como é o futebol. Então, o pleito sobre a saída ou não da atual presidente está agendado para dezembro. E até lá, o que poderia ser feito?

Crises também geram oportunidades. Estamos, portanto, diante da chance de mudar algo no Flamengo. O aumento do quadro social pode ser uma solução, mas é de difícil concretização e leva tempo para se obter o direito ao voto. O fato é que não há regra e estamos do lado de fora, mas podemos pressionar, fazer barulho. Quais medidas poderiam ser tomadas o mais breve possível?

Como falei em um post, Ronaldinho não só pode, como deveria fazer a diferença. Quem mais do que nosso astro-mor personalizaria em nosso elenco a displicência e o descaso com o próprio clube? Se usar nossa camisa 10, recebendo R$ 1,2MM, não é motivo para que alguém se motive, se matando em campo, para que os resultados esperados sejam alcançados, o que mais seria? As primeiras notícias após o novo vexame já indicam que ele poderia estar de saída. Medida que teria todo meu apoio. É preferível contar com um mediano motivado do que com um gênio sem tesão. Dar alguns bons passes no jogo é muito pouco e podemos conseguir quem faça o mesmo com mais disposição e menor custo. Nem quero saber a vida noturna que ele leva, mas me incomoda que só consiga se movimentar em campo por no máximo um tempo.

O problema aqui seria financeiro. Não sei qual é a multa do contrato do Ronaldinho. Porém, se trabalharmos com a multa convencional (metade da remuneração que faltaria receber até o término do compromisso), podemos estimar uma penalidade a quem romper o contrato próxima aos 20 milhões de reais. É absurdo que um contato de imagem não tenha penalidades para o descaso com a própria imagem, mas não duvidaria nada que o Flamengo não tivesse se resguardado a este respeito. Assim, só resta procurar uma "saída honrosa" como falam por aí. Também de nada adianta tirar Ronaldinho e trazer um Adriano. É preciso sinalizar que o Flamengo está acima das vaidades pessoais.

Acho o treinador o menos culpado pela situação, pois ele não poderia barrar o Ronaldinho. É refém da situação tal qual foi o Andrade em 2010. Porém, as substituições que fez na última partida não podem ficar impunes. Mesmo que o Flamengo se classifique para a próxima fase da Libertadores, o fato é que Joel fracassou. Não conseguiu resolver nenhum problema tático e nem dar o seu famoso jeito na defesa. Mesmo considerando-o como um refém da desorganização que impera no Flamengo, o treinador não pode ser chamado de vítima. Afinal, aceitou se sujeitar a isto e recebe muito bem para tal. Então, é outro que precisa ser afastado e nem deveria treinar o time contra os vices. Porém, ele não poderia cair sozinho, sob pena de estarmos apenas trocando as moscas.

Ou seja, não existe uma regra. Mas, o Flamengo precisa estar acima de tudo e de todos. Então, vamos debater em alto nível. Vamos propor soluções! Quem sabe nossas vozes não passem a ser escutadas por trás do muro da Gávea? Afinal, estamos em ano duplamente eleitoral para a presidente.

 FLAmém!

PS: Não coloquei nenhuma imagem em sinal de protesto.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

RONALDINHO NÃO SÓ PODE, COMO DEVERIA FAZER A DIFERENÇA

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!



Apesar da fragilidade do adversário, o primeiro tempo do jogo contra o Bangu pode ser colocado ao lado dos trinta minutos iniciais da segunda etapa contra o Olímpia no Engenhão como os melhores momentos do Flamengo na temporada.  Em ambos, o time se movimentou bastante, foi ofensivo e criou ótimas oportunidades de gol. Aliás, foram as melhores atuações do Ronaldinho no ano. Em nosso melhor jogo em 2011, aquele fantástico 5x4 no 5antos, o nosso camisa 10 também fez uma partida espetacular.

Independente da atuação do principal jogador do time ser a causa ou mera consequência do bom jogo coletivo, o fato é que o Flamengo joga bem quando Ronaldinho tem participação destacada e vasco-versa. Fato que só demonstra a importância do Gaúcho.  Portanto, não há dúvidas de que o time precisa dele, mas por inteiro, comprometido com o resultado, com os companheiros e, principalmente, com o próprio clube. 

Zagallo, em entrevista , disse que Ronaldinho é jogador de 30 metros. Já o publicitário rubro-negro Affonso Romero, autor da coluna Sobretudo no blog Ouro de Tolo, costuma falar em um fórum que Ronaldinho não sai do seu "cercadinho", que seria aquela faixa ali na ponta esquerda onde ele fica se escondendo ou no máximo virando o jogo lá para o lado direito, talvez na tentativa de fazer a bola demorar a voltar até ele. Entretanto, nos certames citados, a diferença foi justamente que Ronaldinho saiu do seu "cercadinho" ou dos seus 30 metros, como queiram. Ele buscou o jogo, se movimentou e participou ativamente das partidas. É o que queremos!

Porém, pelo salário que recebe e pelo talento que lhe é nato, não se pode admitir que faça isto somente quando queira ou em ocasiões esporádicas e apenas em tempo parcial. Até agora, a relação com o Flamengo tem sido muito mais desfavorável para o clube, que lhe entregou de bandeja a cabeça de um técnico e assumiu o compromisso de bancá-lo mesmo sem parceria. Concordo que o erro maior seria da diretoria, que aceitou tais imposições. No entanto, cabe a ele, agora, fazer a sua parte. Seria o mínimo esperado!

A boa notícia é que ele tem plenas condições de calar seus críticos, de fazer o Velho Lobo "ter que lhe engolir", de conduzir o time neste momento decisivo. Cabe apenas ao Ronaldinho decidir como irá querer ser lembrado: como ídolo ou desafeto da maior do mundo. Aliás, comprometimento também pode ser considerado como a vontade de fazer história. Sua posição de destaque absoluto faz com que o sucesso e o fracasso da equipe sejam diretamente associados a ele. Se sairmos da Libertadores prematuramente (o que não acredito), a cobrança terá que pesar em quem poderia render mais. Os bônus de sua situação no Flamengo precisam estar acompanhados de ônus equivalentes. Grandes habilidades geram igualmente grandes responsabilidades.

Como capitão, líder e principal jogador, R10 é o espelho dos mais jovens. Por isto, exige-se, pelo menos, um pouco de compostura fora do campo. Ele é um exemplo para o bem ou para o mal e precisa se conscientizar disto e ser cobrado como tal. Sua remuneração é alta por causa do direito de explorar sua imagem. Porém, se ele mesmo não cuida dela, como o clube conseguirá bancá-lo? Uma parte da dificuldade do Flamengo em arrumar patrocínio não poderia ser creditada ao estilo de vida do Ronaldinho? Que empresa irá querer ligar a sua marca a um estilo de farra e de falta de empenho? Mas, se ele conquistar títulos e se dedicar em campo, tudo muda!

O Flamengo pode chegar longe neste ano ou reviver os traumas de 2010. A diferença reside exatamente na atitude com que o capitão do time irá encarar os desafios. A bola está com ele. Vamos ver se ele saberá o que fazer com ela. Deixo claro que eu ainda acredito! Mas, o fato é que chegamos ao dia D. Não há mais margem para descuídos, para recreio.

Respeito é bom e a Nação exige! Que ele comece a honrar logo mais à noite o esforço feito para tê-lo no time.

FLAmém!