quinta-feira, 31 de maio de 2012

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA – por Walter Monteiro e Affonso Romero



O divórcio do Flamengo e Ronaldinho Gaúcho foi melancólico e litigioso, mas ninguém deve se surpreender com o desfecho.


No verão de 2011, debaixo de um sol escaldante, Ronaldinho subiu a um palco improvisado no campo da Gávea. Mesmo vestido de modo espalhafatoso no melhor estilo rapper, mal se via o atleta, completamente rodeado por dirigentes, torcedores profissionais, artistas e bicões de toda a sorte.


Com a Nação Rubro-Negra em festa, ninguém se lembrou de colocar no papel aquilo que havia sido combinado na longa negociação. Segundo se divulgou na imprensa, o clube arcaria com cerca de 20% da milionária remuneração, cabendo os 80% restantes a uma empresa de marketing esportivo, em troca da exploração de patrocínio.


Não demorou muito para surgirem divergências entre os três vértices desse triângulo amoroso - o clube, o atleta, a empresa de marketing. Sem nada escrito, fica mesmo difícil se lembrar de todos os detalhes combinados. O desencontro foi a senha para que a empresa de marketing abandonasse o projeto e deixasse a conta inteira para o Flamengo.


Como se sabe, nada é tão ruim que não possa piorar. O Flamengo, mesmo sem refletir sobre o tremendo impacto financeiro que o salário do jogador representaria no seu caixa, assumiu o compromisso de pagar, sozinho, a maior remuneração de todo o seu centenário futebol. Claro que deu errado.


Em casa que falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão. Como previsível, faltou dinheiro para honrar um pagamento tão elevado. O jogador, que tinha um comportamento rebelde, se sentiu ainda mais livre para fazer o que bem entendesse, sem qualquer preocupação com o seu desempenho esportivo. A torcida, que antes o recebera eufórica, canalizou sua ira pelos insucessos no terreno desportivo para o astro insolente, que parece rir de tudo.


E assim, na Justiça, o sonho acabou.


Que lições tirar do episódio trágico?


Que nenhuma decisão deve ser tomada sem reflexão, sem critérios, sem planejamento e principalmente sem contrato. Que bastaria o clube ter tido o mínimo de cautela, para redigir os contratos devidos, fazer a previsão orçamentária e planejar o desenrolar dos acontecimentos simulando os cenários otimista, realista e pessimista, para só então, depois de tudo assinado e aprovado por quem de direito, fazer a festa devida.


Torcedores podem ser fanfarrões, se deixar contaminar pela euforia. Dirigentes, jamais. Por isso, que ao menos essa ressaca nos sirva de exemplo: nada de misturar emoção com gestão. O Flamengo precisa de um choque de gestão profissional, para deixar o lado torcedor que todos temos bem longe da tentação de agir segundo nossos desejos e devaneios.

Por

Walter Monteiro e Affonso Romero

quarta-feira, 23 de maio de 2012

CLUBE AMADOR, GESTÃO PROFISSIONAL por Walter Monteiro

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!


No artigo que pode representar o encerramento da série de reflexões sobre o Flamengo, o Walter Monteiro nos fala mais sobre a necessidade da gestão de um clube ser profissional. Aproveito para desejar-lhe boa sorte no projeto de transformar o Flamengo no clube de seus sonhos. Será que o sonho que ele apresenta aqui também não seria seu, caro leitor?


Reflexões sobre o Flamengo 
Parte 5
CLUBE AMADOR
GESTÃO PROFISSIONAL


No artigo anterior eu chamara atenção para as desvantagens de se transformar o Flamengo em uma empresa comercial de capital aberto, mas concordava com o conceito de que o rigor exigido para a abertura do capital deveria servir de modelo para a gestão do CRF.

E, de fato, nada impede de que um clube ou qualquer outra entidade sem fins lucrativos empregue em sua administração as boas práticas de governança corporativa.

Aliás, exemplos não faltam. Vamos pegar o caso do Real Madrid. Pode ser que o leitor já tenha ouvido falar no lendário Florentino Perez, que dá entrevistas como presidente do clube e a quem se atribui a fase áurea do time, com a contratação de estrelas “galáticas”, como ele mesmo gosta de dizer.

Mas o fato é que o presidente manda muito pouco no Real Madrid. Para ser mais exato, ele e seus colegas de diretoria (“junta directiva”) sequer são identificados no organograma oficial do clube (clique na figura para ampliá-la):

Não quero insinuar que Florentino Perez seja uma figura decorativa. Mas, como estamos na Espanha e em um clube que homenageia a monarquia, vamos dizer que ele é uma espécie de Rei Juan Carlos. O rei espanhol é formalmente o chefe de estado e representa institucionalmente o país, inclusive cumprindo funções protocolares, como “editar” decretos e leis, mas todo mundo sabe que quem comanda a Espanha é Mariano Rajoy, que nós brasileiros chamamos de “primeiro-ministro”, mas os espanhóis chamam de Presidente del Gobierno.

O que o Real Madrid nos ensina é que a forma moderna de gerir um clube é transformar o presidente em um representante puramente institucional, mas delegar INTEIRAMENTE as decisões cotidianas a um grupo profissionalizado, qualificado e dignamente remunerado. Se alguém duvida que seja assim, recomendo que volte a ler o organograma, que fala por si só.

A pergunta que venho me fazendo há anos é qual a dificuldade de implantar um modelo assim no Flamengo. Há quem diga que o estatuto social não permitiria. Ledo engano: o estatuto, ao contrário, expressamente autoriza que o presidente possa se fazer representar por procuradores.

E, de mais a mais, não seria uma questão formal que atravancaria o progresso. Bastaria encontrar dirigentes que se conformassem com o seu papel puramente institucional e firmassem um pacto de se afastar de vez da gestão do Flamengo, delegando-a aos executivos contratados. Se há quem advogue que se faça isso através de uma S/A, qual o empecilho para agir do mesmo modo na instituição sem fins lucrativos?

O desafio central para os rubro-negros é convencer o quadro social a concordar que a gestão do clube seja comandada EXCLUSIVAMENTE por diretores executivos.

Há muita gente bem intencionada, preparada e até maravilhosamente qualificada que poderia, sim, assumir a direção do clube e, quem sabe, cumprir um mandato promissor. Mas a tendência, infelizmente, não é essa.

A experiência vem mostrando que mais cedo ou mais tarde, o lado torcedor do dirigente acaba falando mais alto e decisões são tomadas com base na impulsividade, na emoção e sem a devida reflexão. Por isso precisamos separar, definitivamente, a gestão e a paixão. Precisamos aposentar o modelo amador e reinventar o Flamengo, a partir de uma gestão profissional.

Eu tenho esse sonho. E vou persegui-lo.

Walter Monteiro
Embaixador Oficial do Flamengo no Rio Grande do Sul, sócio-proprietário do clube (mesmo morando em Porto Alegre) e escreve a coluna Bissexta no Blog Ouro de Tolo.

PS: Quando eu iniciei essa série de artigos, havia planejado escrever uns 15 artigos, tratando de temas variados sobre o futuro do Flamengo. Eu não estava envolvido com a política interna do clube, por isso me sentia à vontade para escrever livremente.

Mas a ótima repercussão desses textos ajudou a agregar mais gente comprometida em torno do mesmo ideal. Daí nasceu o movimento REVOLUÇÃO RUBRO-NEGRA, que pretende se apresentar às eleições em dezembro propondo exatamente isso que acabo de defender, um choque de gestão profissional, um profissionalismo radical.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O BALANÇO DO FLAMENGO PARA LEIGOS (Aula 2)

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!
 
   
O Professor Pacioli* começa sua segunda aula sobre análise das demonstrações contábeis do Flamengo no Curso de Contabilidade para Leigos, dizendo:
- Olá, pessoal!  Em nossa primeira aula, nós vimos os principais pontos das demonstrações contábeis do Flamengo. Confesso que eu mesmo fiquei favoravelmente surpreendido. Claro que se fosse de uma S/A, eu não recomendaria a compra de ações, mas os números indicam que a situação melhorou. Não diria que ela é boa, mas já foi bem pior.
   
Ressalvas dos Auditores
O professor deu um tempo para que todos se acomodassem nos respectivos assentos e refletissem um pouco sobre o que acabara de dizer. Após a pequena pausa, continuou:
- Hoje iremos ver alguns pontos obscuros e alguns problemas que aparecem nas demonstrações do Clube. É obrigatório que sejam divulgadas junto com um parecer feito por uma empresa de auditoria independente. Como não temos acesso aos documentos que deram origem aos números apresentados, em qualquer análise temos sempre que ler o que disseram os auditores.
    
   
Pacioli, então, mostra um slide, no qual aparece a parte final das demonstrações contábeis e lá está o "Relatório dos Auditores Independentes Sobre as Demonstrações Financeiras". Ele diz:
- Vamos entender o que os auditores disseram. Logo no início, no item 3.1, lemos que "a circularização dos fornecedores, dos bancos, dos empréstimos bancários e dos principais credores não foi respondida a tempo". O mesmo ele fala sobre os advogados do clube em relação aos processos judiciais. Mas, o que será essa tal de "circularização" e qual o problema disso?
 
Enquanto os alunos refletem e tentam imaginar o significado dessa ressalva, o professor continua sua explanação:
- Circularização é uma das principais técnicas de auditoria utilizada para investigação e confirmação dos dados apresentados. Consiste em revalidar junto a terceiros envolvidos a veracidade dos documentos, os valores apresentados e as estimativas feitas. Assim, o auditor determina que a auditada (o Flamengo, no caso) envie uma carta (ou email) para terceiros solicitando informações para efeitos de auditoria. Esta carta deve ser respondida diretamente à empresa de auditoria, para diminuir o risco de fraudes.
 
Um aluno levanta a mão e pergunta:
- Professor, então podemos dizer que há uma falha da empresa de auditoria por não ter solicitado as cartas em tempo hábil? 
 
- Não - responde o professor - O tempo provavelmente foi suficiente para que houvesse alguma resposta. O problema é que, por algum motivo, os terceiros não responderam. Em outras palavras, não é possível confirmar se alguns dos principais números do Balanço são reais. Assim, os bancos, por exemplo, não confirmaram os saldos devedores dos empréstimos ou se haveria alguma outra conta não analisada, os fornecedores não ratificaram os saldos existentes no contas a pagar, bem como os advogados do clube não corroboraram os passivos judiciais, que sabemos serem críticos no Flamengo. Isto é inaceitável. Há quem defenda que a falta de confirmação de saldos nas circularizações deveria ser objeto de um parecer com "abstenção de opinião" (quando o trabalho de auditoria não pode ser realizado) e não com "aprovação com ressalvas" (impropriedades que não comprometem as demonstrações). O pior é que no balanço de 2010 ocorreu a mesma coisa.
   
     
Após ver a cara de espanto em alguns alunos e de estranha naturalidade em outros, o professor falou à plateia:
- Também vale o destaque das quartas e quintas ressalvas. No primeiro caso, é informado que o clube ignorou nos números apresentados uma multa de aproximadamente R$ 33 MM aplicada pelo Banco Central, decorrente de infrações cambiais, por ter recorrido da decisão. Como não há garantia da vitória no recurso administrativo feito pelo Flamengo, o valor deveria sim ter sido contabilizado pois é recomendado que as demonstrações sejam conservadoras, nunca antecipando lucros e sempre prevendo possíveis prejuízos. No outro caso, os auditores informaram que não têm como confirmar a provisão R$ 8 MM feitas para as perdas. Ou seja, o clube previu uma inadimplência no valor acima e a auditoria não conseguiu confirmar se a mesma poderia ser maior.
    
Receita da TV e antecipações
- Outra coisa interessante a observar é o crescimento da receita de TV já no Balanço de 2011. Como vimos, o novo contrato de transmissão foi o principal responsável pela melhora dos indicadores. Mas, o contrato não seria válido somente a partir de 2012? Como a receita em 2011 pode ter aumentado?
    
Alguns alunos responderam que a mesma só poderia ter sido adiantada. Então, o mestre pega um slide e diz:
   
   
- Vocês se lembram na aula anterior quando expliquei o regime de competência? Assim, uma receita só poderá ser lançada como resultado no exercício a que se referir. Ou seja, mesmo que haja antecipação, o valor aumenta o caixa, mas não é considerado receita ainda. Logo mais veremos como se faz tal lançamento. O que importa aqui é que não foi apenas o Flamengo que já aumentou a receita no ano da assinatura do contrato (e não a partir de sua vigência). Por isto, minha suposição é de que tenha ocorrido alguma luva para que alguns clubes (não todos) assinassem. A do Flamengo deve ter sido próxima a R$ 50MM, como podem observar no quadro (figura acima).
    
 
- O problema é  que algo relevante assim deveria ter sido melhor explicado. Do contrário, cada um supõe alguma coisa. O lugar correto é nas notas explicativas. Como o próprio nome revela, servem para explicar alguns números. Elas ficam logo abaixo dos demonstrativos e acima do parecer de auditoria, já visto.
   
- Mas, já que alguns aqui presentes tocaram no assunto da antecipação, ela realmente existiu. Como só será receita no futuro e, antecipadamente, entrou no caixa, os manuais de contabilidade recomendam que a contra-partida seja uma conta do passivo. No Balanço do Flamengo, podemos ver as contas Receitas a Realizar no circulante (ou seja, o que foi antecipado de 2012) e Receitas Diferidas (que só irá se tornar receita nos anos subsequentes, pois estão no Exigível a Longo Prazo).

- Agora, algo estranho é a comparação das receitas antecipadas com o contas a receber. E aí eu não consigo nem fazer suposições, exceto a de que o próximo presidente poderá ter problemas de fluxo de caixa.
Conclusão
Um aluno, então, pergunta:
- E qual foi afinal sua conclusão, professor?
 
- Só a de que os demonstrativos do Flamengo são complexos demais para qualquer um fazer um diagnóstico preciso, qualquer que seja este diagnóstico. Mas, foi um bom exercício. Se algum de vocês quiser volto ao tema desenvolvendo mais algum conceito. Comentem aí!.
 FLAmém!


* Pacioli - escolhido para ser o nome do professor é uma homenagem a Luca Pacioli, um frei franciscano que é considerado o pai da contabilidade moderna. Ele, em um livro escrito em 1494 (ou seja, quando o Brasil ainda era dos índios), descreveu pela primeira vez o "método das partidas dobradas", que é a base dos lançamentos contábeis até hoje, segundo o qual todo débito corresponde a um crédito de mesmo valor. A consequência disto é que o total de débitos será sempre igual ao total de créditos e o ativo será igual ao passivo, mas aí já é um post para um blog contábil, certo?


quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Flamengo que não pode ser – e aquele que tudo poderá por Affonso Romero

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!

Dando continuidade aos artigos sobre gestão do Flamengo para debate e reflexão sobre que caminhos o clube poderá seguir, transcrevo abaixo um artigo de outro FLAmigo, o publicitário Affonso Romero Dantas. Acredito que daí poderá surgir o Flamengo com que todos sonhamos!


O Flamengo que não pode ser – e aquele que tudo poderá




Qualquer dos grandes clubes brasileiros deveria liderar uma revolução na gestão do nosso esporte. O Flamengo, como time de maior torcida, e maior marca esportiva do País, deveria ter esta transformação como missão obrigatória. Senão por motivo mais nobre, que seja para salvar a si mesmo.

Discute-se bastante a estrutura societária, a democratização do acesso ao voto nos clubes de massa, a transformação em clubes-empresas, a separação entre futebol e clubes sociais, a negociação das dívidas e várias questões que, a meu ver, deveriam ser subsidiárias a um tema mais importante: o modelo de gestão.

Pode-se encontrar, dentre os clubes de sucesso neste hoje mercado global do esporte, variados modelos societários: Milan, Chelsea e Manchester United têm um único controlador, o Barcelona tem dezenas de milhares de eleitores. Qual o modelo mais eficiente? Parece uma pergunta menor, uma vez que se chega ao sucesso por um ou outro caminho. Entretanto, nenhum destes grandes clubes tem uma forma amadora de gestão.

Alguns defensores do amadorismo vão lembrar, com boa parcela de razão, que os clubes brasileiros construíram uma bela história já centenária contando com a gestão abnegada de alguns seus sócios, eleitos para tal. A bem da verdade, durante décadas os grandes clubes europeus também trilharam esta estrada.

O que houve desde então foi uma mudança de paradigma. De duas a três décadas para cá, o esporte – notadamente o futebol – passou a contar com o aporte de recursos de outras vertentes da indústria do entretenimento, entre as quais os conglomerados de comunicação, as empresas fornecedoras de material esportivo e os grandes anunciantes, em meio a processo de crescente globalização.

Ora, o tipo de negócio em que os clubes se viram envolvidos passou a ser desenvolvido por partes desiguais: enquanto as empresas parceiras são representadas por profissionais altamente qualificados, a maioria dos clubes permaneceu representada por dirigentes amadores - com claro prejuízo para os clubes. Por outro lado, as cifras em tais negociações cresceram exponencialmente, sem que tenha havido um mínimo de racionalidade no uso desses recursos por parte dos clubes que não profissionalizaram sua equipe de gestores.

O resultado é um mercado atípico, em que houve uma transferência de ganhos maior à mão de obra do que aos empregadores. Isso se deve ao fato de que o valor médio pago a atletas e técnicos subiu mais do que os ganhos das instituições esportivas, movidos pela passionalidade de dirigentes e pela boa percepção de oportunidade por parte de representantes e empresários. O crescimento dos valores arrecadados, em lugar de aumentar as possibilidades de desenvolvimento destes clubes, ao contrário, provocou um mergulho na desordem financeira e uma situação geral de insolvência.

Enquanto isso, aqueles que deveriam ser os maiores ativos dos clubes - suas marcas e a relação institucional com as massas de torcedores que medem a sua grandeza - em vez de se incrementarem, deterioram. Some-se o crescimento de marcas esportivas estrangeiras e o avanço de outras facetas mais profissionalizadas da indústria do entretenimento para termos uma situação caótica aparentemente irreversível. Pelo menos, sem que haja uma nova mudança de paradigma.

Na coluna que publico na Internet (no blog Ouro de Tolo) eu já havia comentado os achincalhes que o Flamengo anda sofrendo sob o olhar passivo de sua atual Diretoria, até com a colaboração indireta dela. Naquele texto, um caso fortuito com o Diego Maurício, de importância menor, simbolizava o desleixo pela imagem do clube. Eu ainda elencava outros exemplos.

De lá para cá – e em tão curto tempo – o Flamengo colecionou outros descasos até maiores, como a lentidão em contratar um dirigente remunerado para futebol, a interferência sistemática de Vice-Presidentes uns nas áreas de atuação de outros, a declaração do não pagamento de impostos, a revelação de um balanço para lá de confuso e polêmico, a eliminação prematura em todas as competições do futebol no semestre, um período longo sem jogos e poucos treinamentos, a inação e o improviso na contratação de reforços, o debate público acerca de salários em atraso, além de intermináveis declarações oficiais inadequadas.

O Clube de Regatas do Flamengo, glória do esporte nacional, é vítima de um processo de encolhimento institucional (se existisse, a melhor palavra seria “apequenamento”) e exemplo daquilo que não deve ser feito na gestão de instituições congêneres. Vou evitar o lugar-comum da crítica fácil às pessoas que vêm dirigindo o clube nos últimos anos.

Conheço algumas delas, e dentre elas várias pessoas de bem, alguns inclusive muitíssimo bem sucedidos em suas vidas pessoais e profissionais.

Mesmo aqueles que têm experiência, conhecimento técnico e capacidade intelectual para atuar nas muitas atividades da gestão de um clube, costumam falhar quando fazem o papel do dirigente esportivo voluntário: misturam a paixão e a razão, o imediatismo e o necessário planejamento estratégico, o compromisso para com a instituição e as obrigações pessoais privadas, o administrador e o torcedor.

O Flamengo faz péssima gestão de sua marca, é comumente associado a escândalos, brigas internas políticas inócuas, desrespeito a hierarquias, processos confusos, contratos mal alinhavados e raramente cumpridos, um ambiente e uma cultura interna que, sinceramente, dificilmente poderia vir a atrair parceiros confiáveis e interessados na obtenção conjunta de resultados positivos numa relação estável e segura.

No momento em que começa a se desenhar o quadro eleitoral cujo desfecho se dará no final do ano, quando da eleição da Diretoria para o próximo triênio, vê-se candidatos divididos entre aqueles que pretendem perpetuarem-se num grupo de poder que se metamorfoseia para manter-se igual ou aqueles que se apresentam de forma novidadeira como representantes de uma pseudo-mudança, ainda que reproduzindo discursos, perfis e hábitos antigos.

Parece bastante claro que uma mudança passa, necessariamente, pela determinação em dar ao clube um choque de gestão profissional incondicional. Há, para a Diretoria eleita, um espaço político necessário e útil, qual fosse o respaldo institucional, o estabelecimento de metas, a contratação de uma equipe de gestores profissionais, a avaliação dos resultados obtidos em médio prazo e a validação ou redefinição das soluções adotadas, em períodos e ciclos pré-configurados.

Caberia à equipe de gestores profissionais tomar as decisões administrativas, decidir sobre cada uma das questões pertinentes às mais diversas atividades do clube, traçar planos executivos, preparar e gerir contratos, explorar oportunidades, negociar com atletas e seus representantes, valorizar a marca e otimizar todas as tarefas de gestão. Tudo isso com autonomia delegada e sob regras predeterminadas de governança corporativa, palavra chave neste novo momento.

O Flamengo estaria em conformidade com seu atual Estatuto, com a Diretoria eleita cumprindo sua missão de definir ONDE o clube deve chegar (objetivos) e um grupo de gestão profissional definindo COMO chegar (gestão) a tais metas, sob regras claras, sem sobressaltos ou interferências políticas cotidianas, com transparência de ação, num ambiente negocial de alto nível.

Este não é um caminho a ser adotado pelo Departamento de Futebol, nem por este ou aquele setor, mas pela instituição por inteiro, sob a liderança politica de um Presidente que tenha a grandeza de saber delegar a gestão cotidiana a um grupo de profissionais liderado por um CEO (ou outro nome que se queira dar ao cargo) com formação sólida, compromisso com o resultado, método administrativo, experiência em gestão de instituições de grande porte e uma equipe bem articulada. Ou seja: um choque de gestão profissional.

O problema real consiste em conciliar, num grupo a ser eleito para liderar esta revolução, paixão pelo Flamengo e a clara noção de que esta mesma paixão inviabiliza uma gestão racional. Conciliar conhecimento profundo da questão e humildade para abrir mão da gestão direta sobre os dilemas cotidianos.

A minha impressão pessoal é que ao cruzar as portas do clube, o torcedor-dirigente típico não se contém e se sente obrigado a interferir, participar, aparecer, falar além da conta – mesmo aqueles que antes se diziam comprometidos com a ideia de profissionalização. No fundo, o torcedor que habita em nós faz com que todos queiram “escalar o time” quando detém poder para tal.

O Presidente hipoteticamente ideal deveria ser “impedido” de entrar no clube, sentar à mesa, resolver qualquer assunto do dia-a-dia. Que dê as diretrizes, avalie e reconduza a médio prazo, mas não interfira na ação.

Este é o modelo ideal a meu ver. Já passou da hora de fazermos uma Revolução Rubro-Negra. Vamos a ela.

por Affonso Romero Dantas - publicitário e sócio-proprietário do Flamengo


FLAmém!

PS: Texto publicado originalmente no Blog Ouro de Tolo

terça-feira, 15 de maio de 2012

Reflexões sobre o Flamengo (parte 4) – CLUBE S/A E SUAS ILUSÕES. Por Walter Monteiro





Nove entre dez defensores de mudanças no comando do Flamengo anseiam pela transformação do clube em uma empresa, mais especificamente uma sociedade anônima. Exemplos europeus de sucesso dessa transformação alimentam as ilusões em torno do tema.

No caso específico do Flamengo, a criação de uma espécie de “Flamengo S/A” ou “Flamengo Futebol” (segundo alguns de seus partidários menos éticos) ainda teria o benefício adicional de congelar as dívidas acumuladas pelo clube na estrutura antiga, uma solução heterodoxa que dividisse o Flamengo entre a “banda boa” e a “banda podre”, deixando a imensa dívida como herança para os sócios.

Há uma diferença sensível de concepção entre um clube e uma S/A. O dirigente do clube deve satisfações ao universo de associados, uma massa disforme, onde cada membro tem rigorosamente o mesmo poder. Já o dirigente de uma S/A deve muito mais satisfações ao acionista controlador que à assembléia de acionistas.

O que parece escapar aos entusiastas dessa solução é que o ambiente econômico e regulatório do Brasil não é exatamente igual ao da Europa ou dos Estados Unidos (onde as franquias dos esportes locais também são empresas comerciais).

Estou convencido que uma sociedade anônima dedicada à gestão de práticas esportivas poderia se tornar uma presa fácil nas mãos de investidores do ramo. Não dá para descartar a possibilidade de que gente de elevado calibre como Eduardo Uram, Wagner Ribeiro ou até Ronaldo Fenômeno (arghhhh!) assumam o controle do Flamengo S/A e passem a ditar os seus rumos segundo suas próprias conveniências.

Aliás, até na Europa há exemplos de times cujo controle societário é transferido sem qualquer tipo de restrição, para gente de duvidosa reputação.

Mas enquanto na Europa o padrão dos aventureiros é injetar dinheiro de origem nebulosa em troca de prestígio para magnatas que não têm mais onde gastar, o investidor típico do futebol brasileiro é um negociante de atletas, com visão de retorno rápido do capital investido. Qualquer clube que se transforme em empresa será um chamariz para essa gente, que, na qualidade de acionista (ainda que não formalmente controlador) poderá se valer de mecanismos diversos para impor sua vontade.

O alerta vale mesmo para o caso de uma sociedade anônima onde o clube seja o controlador. Primeiro, porque a futura S/A teria de emitir ações em favor do clube e os desdobramentos a partir daí, inclusive quanto aos credores, passa a ser incerto. Segundo, porque o excesso de regulação jurídica no universo das S/A pode gerar empecilhos de toda sorte, em um modelo totalmente desconhecido. E terceiro, o mercado acionário brasileiro, que ainda é muito incipiente, vem se sofisticando a cada ano e não há como descartar, totalmente, a possibilidade de uma oferta hostil pela tomada do controle.

Portanto, longe de ser uma solução definitiva para os problemas de gerenciamento e financiamento, a transformação do Flamengo ou de parte dele em uma empresa pode ser, ao contrário, uma tremenda dor de cabeça.

Quero ainda lembrar que os clubes de futebol, por serem instituições sem fins lucrativos, sofrem uma tributação bem baixa – a maioria daqueles impostos que o Michel Levy, na maior cara de pau, diz que às vezes deixa de pagar “um imposto aqui, outro ali”, são tributos incidentes sobre a folha de pagamento, porque diretamente sobre a arrecadação do Flamengo a carga tributária seria de uns 4%, a julgar pelo Balanço Patrimonial.

Obviamente que o cenário fiscal se agravaria muito em uma sociedade anônima . Dá para especular que pelo menos uns 20% do faturamento iria parar nas mãos do fisco.

E os problemas não terminam por aí.

Quem defende a criação da S/A sequer cogita que o controle não fique nas mãos do CRF.

Sejamos realistas: o mercado, por si só, já seria refratário a um investimento em um segmento tão pouco rentável como o dos clubes de futebol, mas a situação seria ainda pior se o controle permanecesse nas mãos do clube. Afinal, o que atrai investidores de peso é justamente a possibilidade de exercer ou compartilhar o controle.

Para funcionar, teria que ser algo como uma "privatização", o Clube de Regatas do Flamengo abrindo mão para sempre de gerir a marca e o futebol, ficando apenas como detentor de uma 'golden share' para opinar em matérias chave. E seria difícil, muito difícil, convencer os sócios proprietários do clube a tomarem essa decisão.

Isso eu falo no plano teórico, apenas.

Porque, na prática, dado o mercado atual de investidores em futebol no Brasil, a opção seria temerária. Os investidores institucionais qualificados teriam empecilhos para participar do projeto, porque o rating da futura Fla S/A tende a ser baixo.

Quem nos restaria? O capital volátil e, sobretudo, os já citados investidores tradicionais do segmento - as Traffic e 9nes da vida. Todos com visão de curto prazo e baixo comprometimento institucional. Além de não serem nenhuma referência de ética e gestão.

Sem contar que a minha aposta é que logo após o IPO (a oferta pública inicial, que representa a abertura do capital em bolsa de valores) as ações sofreriam uma queda vertiginosa. Isso já é comum com empresas sólidas, imagina com uma empresa de futebol, cujo fluxo de caixa é diretamente influenciado pela incerteza dos resultados.

Isso traria um efeito colateral deletério. Quanto vale a marca Flamengo, cujo real valor hoje remanesce no imaginário intangível? Eu não sei, ninguém sabe. Mas no exato instante da criação da S/A ela teria que ser valorada, para poder fixar o preço das ações. Afinal, perdoem a linguagem um pouco mais hermética, o CRF vai integralizar o capital social da futura S/A com a sua marca, recebendo em troca as ações.

Que fique bem claro: se a marca do Flamengo hoje vale o infinito, no exato instante da criação da S/A ela passa a ter um valor definido, expresso em ações.

E se as ações caírem logo depois do IPO, a conclusão é simples: o mercado decretou que a marca Flamengo vale menos do que a gente imaginava. A recuperação pode ser lenta, ou talvez nem vir. Isso será desastroso para a captação de dinheiro no futuro.

Por isso, sou contra a criação da Fla S/A. É risco demais, só para nos livrarmos dos dirigentes de sempre. Há, por certo, caminhos mais rápidos e seguros.

Mas em um ponto eu concordo integralmente com quem defende a criação da S/A. O padrão de exigência necessário ao IPO deve ser implantado no clube com urgência. Princípios de Governança Corporativa, responsabilidade orçamentária e profissionalização da gestão são imprescindíveis em uma organização que arrecada mais de US$ 100 milhões/ano, com potencial para arrecadar ainda mais.

Isso é inadiável.

Mas eu acredito que há uma forma mais inteligente de se fazer isso sem correr os riscos de uma S/A. Volto ao tema no próximo artigo.

Walter Monteiro
Embaixador Oficial do Flamengo no Rio Grande do Sul, sócio-proprietário do clube (mesmo morando em Porto Alegre) e escreve a coluna Bissexta no Blog Ouro de Tolo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Reflexões sobre o Flamengo (Parte 3) SÓCIO OFF-RIO, O JEITINHO BRASILEIRO EM VERSÃO RUBRO-NEGRA por Walter Monteiro



Nos textos anteriores falei sobre projetos de sócio torcedor de um modo geral. No CRF, como se sabe, não há essa modalidade, nem se tem conhecimento de que se venha a criá-la em curto prazo. Em paralelo, há algo que guarda alguma semelhança com o sócio torcedor, que é o chamado sócio Off-Rio (ou contribuinte estadual, na definição apropriada).
  
Está lá na página oficial do clube para quem quiser ver. Quem mora a mais de 100 quilômetros do Rio de Janeiro (o site não deixa claro, mas presumo que seja a cidade) pode se tornar sócio pagando apenas R$ 40,00 por mês. Em troca, recebe uma carteira de sócio estadual, adquire o direito de frequentar o clube até 30 dias por ano, recebe publicações e informações sociais quando publicadas, participa de promoções e eventos quando forem promovidos. E, claro, a jóia da coroa: vota para Presidência e Conselhos, depois de cumprida a carência de 3 anos.
  
Há tempos eu vinha emitindo alguns alertas acerca da precariedade desses direitos de voto dos sócios Off-Rio, para os quais não há previsão estatutária, mas eu desisti de insistir no assunto. As reações dos meus interlocutores eram tão raivosas, tão fundamentalistas e tão enérgicas que eu me sentia tentando explicar a George Bush que talvez não houvesse armas químicas no Iraque. Desisti, cansei, deixa pra lá. Que fiquem todos confortáveis com suas crenças imutáveis.
  
Ou melhor, nem desisti tanto assim. Desisti de discutir, mas não de alimentar minhas dúvidas. Reuni o pacote de disposições do Estatuto Social do CRF que colocam em xeque a validade do sócio Off-Rio e encaminhei uma consulta oficial ao Conselho Deliberativo do clube, que a submeteu a uma comissão de juristas. Até agora desconheço o que dirá tal comissão, só torço para que digam que sim, que os Off-Rio possuem direito de voto. Isso trará paz para muitos.
   
O que me incomoda mais nessa temática do Off-Rio é que os defensores mais ardorosos de uma campanha associativa não são sócios dessa modalidade. São, quase sempre, sócios e torcedores cariocas, que olham para o Off-Rio como uma alternativa adaptada de um projeto de sócio torcedor.
   
O raciocínio é simples: ser sócio do Flamengo não é muito barato e para quem não mora nas imediações da Gávea frequentar o clube é algo fora de cogitação. Isso torna difícil convencer torcedores a pagar R$ 105,00 por mês para usufruir bem pouco da instalações. Entretanto, R$ 40,00 soa mais palatável, se encaixa melhor no orçamento dos torcedores, pois, afinal, esse é um valor aproximado do que cobram os programas de sócio torcedor comercializados por clubes rivais, como vimos no artigo anterior.
   
É daí que surge essa fixação - de gente bem intencionada, em sua maioria, faço essa ressalva – de concentrar os esforços de campanhas de associação em sócios de outros estados. É um modo bem brasileiro de lidar com as dificuldades: já que não há sócio torcedor à disposição, vamos aproveitar essa brecha do Off-Rio e aumentar o colégio eleitoral por essa via.

Não condeno quem o faça. Se a possibilidade existe, se as pessoas realmente acreditam que é aumentando o colégio eleitoral que se mudará o clube, que sigam em frente.

O que parece fora de questão é perguntar aos sócios de fora do Rio de Janeiro quais são, antes de mais nada, as suas reais necessidades. Eu mesmo, que morei a minha vida inteira no Rio antes de me mudar para Porto Alegre em 2007, não imaginava que a vida rubro-negra fosse tão difícil fora da Cidade Maravilhosa.

O torcedor Off-Rio, para começo de conversa, tem dificuldade de torcer. Sabe aquele domingão que tem um clássico Flamengo x Vasco pelo Carioca? Em Porto Alegre a TV mostra Grêmio x Ypiranga. Sabe o jogo de meio de semana pela Copa do Brasil contra o Horizonte? Em Curitiba o Sportv passa Atlético PR x Ipatinga. Sabe o jogo de estreia na fase de grupos da Libertadores que vai passar na Globo? Na Globo de Salvador vai passar Vitória x Itabuna.

Pensa que a vida melhora quando chega o Brasileirão? Engano seu. Quem mandou Flamengo x Palmeiras ser às 16h, mesmo horário de Portuguesa x Atlético MG? O flamenguista de Belo Horizonte vai ter que se contentar com o jogo do Galo.

Então, para quem mora fora do Rio, ou bem assina o PFC, ou ver o Flamengo passa a ser algo bissexto. Ou seja, lá se vão mais de R$ 60,00 por mês. E isso nem sempre resolve o problema....porque sabe aquele dia que a partida coincide com um compromisso qualquer e o torcedor carioca vai ouvindo o jogo no rádio do carro ou do celular? Pois é, quando isso acontece comigo, eu preciso me contentar com o jogo do Inter.

E até agora só falei de jogos pela TV. Porque quando se trata de jogos no estádio, aí mesmo é que o torcedor Off-Rio come o pão que o diabo amassou. Vou contar um caso real, relativamente recente.

Em 2010 o Flamengo jogou as Oitavas de Final da Libertadores no Pacaembu, contra o Corinthians. Sabem onde os sócios Off-Rio de São Paulo assistiram a partida? Em casa. Sim, os sócios Off-Rio foram obrigados a ficar em casa. Para facilitar o deslocamento dos torcedores cariocas, o Flamengo fez o favor de comprar antecipadamente toda a carga de ingressos visitantes e vendê-la na Gávea.

Esse episódio do jogo do Corinthians ilustra uma diferença marcante entre os sócios regulares e os sócios Off-Rio: o acesso privilegiado e antecipado à compra de ingressos. Sócio do Flamengo nunca fica de fora de jogo importante, nem passa aperto para comprar ingresso: basta ir na sede da Gávea e acessar a bilheteria exclusiva, que fica lá dentro do clube, ao lado da secretaria.

Além disso, lá na Gávea também vende toda a linha oficial de produtos do clube com descontos para os sócios. E quando há eventos, o sócio sempre é convidado a participar.

Digo essas coisas para evidenciar um aspecto que geralmente passa despercebido: mesmo para quem não frequenta a sede, o Flamengo oferece aos seus sócios cariocas alguns benefícios palpáveis e reais, em especial o mais relevante deles, que é a exclusividade na compra de ingressos.

Já para os Off-Rio, sejamos francos, a única coisa que o clube oferece em troca é um boleto de cobrança mensal. Nem a revistinha bimensal costuma chegar – desde 2009, só recebi 3.

E, sim, a chance de votar 3 anos depois de se associar. Desde que, claro, o sócio esteja disposto a faltar o trabalho e investir algumas centenas de reais no seu deslocamento até ao clube, pois não há votos on line ou por correspondência (e nem haverá enquanto não se mudar o estatuto, que expressamente prevê votação por envelopes nas urnas).

Portanto, a todos os que se enchem de esperanças de encontrarem hordas de sócios ávidos por doar R$ 480,00 por ano ao CRF apenas para figurarem na lista de eleitores em 2015, fica aqui meu conselho: não confundam o atual sócio Off-Rio com um projeto de sócio torcedor meio capenga. Ele é muito pior do que isso, é uma extorsão apelativa à paixão genuína da Nação.

Se realmente vocês estão empenhados em encontrar mais sócios a curto prazo, fixem-se na turma do Rio de Janeiro mesmo. Pelo menos para esses ainda se pode acenar com contrapartidas tangíveis. Nem que seja trocar a mensalidade do PFC pela do clube e assistir as partidas em um dos muitos bares que as transmitem. Porque, acreditem, até isso não é simples fora do Rio de Janeiro.


Walter Monteiro - Embaixador Oficial do Flamengo no Rio Grande do Sul, sócio-proprietário do clube (mesmo morando em Porto Alegre) e escreve a coluna Bissexta no Blog Ouro de Tolo.

PS: Para reler:
  1. O primeiro artigo da série: Sócio Torcedor, Mitos e Crenças
  2. O segundo artigo da série:  Ainda o sócio Torcedor, Seus Mitos e Suas Crenças

domingo, 6 de maio de 2012

O BALANÇO DO FLAMENGO PARA LEIGOS (Aula 1)

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!


O curso era de contabilidade para leigos. Ao final, o Prof. Pacioli* informou que na próxima aula ele falaria sobre demonstrações contábeis e perguntou à turma qual empresa gostaria de analisar. A resposta da maioria foi que gostariam que ele utilizasse como exemplo o recém divulgado Balanço do Flamengo. Após breve hesitação, o professor topou dizendo:
- Não é uma boa escolha. As demonstrações de clubes não são, digamos, as mais acadêmicas. São difíceis de serem analisadas. O ideal seria utilizarmos alguma grande empresa, uma sociedade anônima, de preferência multinacional. Mas, tudo bem! Vou mostrar as particularidades e excentricidades de um balanço como o do Flamengo. É um baita desafio, mas eu topo! Numa outra aula qualquer mostro um balanço mais convencional, digamos assim, e vocês poderão notar as diferenças. Vamos começar por onde vocês têm mais curiosidade.

Receita

Dito e feito! A aula seguinte, sobre as demonstrações contábeis teve o Flamengo como objeto do estudo de caso. O professor começou perguntando aos alunos qual seria o item mais importante no orçamento doméstico, ou seja, na contabilidade da família de cada um qual seria aquele ponto que todos se interessariam em saber primeiro:
- Salário...Quanto ele ganha...Rendimento... Remuneração... e outras variações foram as respostas e tiveram um consentimento do professor.

- Perfeito, mas antes de falarmos do Flamengo, é importante que vocês aprendam uma regrinha contábil. Na contabilidade não se adota o regime de caixa, mas o de competência. Ou seja, consideramos as receitas no momento que são geradas, independente de terem sido recebidas. Para exemplificar, vamos imaginar a contabilidade de um assalariado, cujo salário seja pago no dia 5 do mês seguinte. Assim iremos considerar como receita o seu salário de dezembro, mesmo que ele só venha a receber em janeiro. Se o patrão dele ficou devendo uma parte de um salário, a contabilização da receita será pelo valor integral, mesmo que nosso pobre empregado não tenha visto a cor dessa grana. Por outro lado, se o empregador lhe antecipou um dinheiro das férias que só teria direito no próximo ano, esse valor não será computado na receita  Isto é importante para entender que nem tudo que aparece lançado como receita efetivamente entrou no cofre de uma empresa e que as antecipações, mesmo já tendo sido até gastas, não são consideradas receitas daquele exercício. O mesmo vale para as despesas e demais lançamentos.


Professor Pacioli continua a aula demonstrando a grande variação positiva da receita no DRE (Demonstração do Resultado do Exercício):
- Como vocês mesmo disseram, tudo fica mais fácil tendo mais dinheiro. No caso específico do futebol, com um faturamento maior pode-se ter um time mais competitivo. Então, por este item analisado isoladamente, o Flamengo foi muito bem. Observem o crescimento da receita de um ano para outro. Aliás, comparar os dois últimos anos é a primeira análise que é feita nos demonstrativos. O segredo para este sucesso foi o novo contrato de Direitos de Transmissão com a Tv. No entanto, de nada adianta olharmos números isolados. Precisamos entender sobre o setor e como todos sabem, no ano passado, o clube dos 13 foi implodido e o Flamengo negociou sozinho e em bases muito melhores. Nesta negociação, podemos confirmar com os números que a diretoria do clube foi bem sucedida.


- Ao analisamos algum tópico, o ideal é sempre fazermos comparações. Números precisam ser relativizados. Já falei na tradicional comparação entre os dois anos que obrigatoriamente são apresentados em qualquer demonstrativo contábil - o ano analisado com o imediatamente anterior. Mas, várias outras podem ser feitas, algumas são padrões, outras de acordo com a conveniência e objeto de estudo. Por exemplo, podemos comparar duas gestões. Como a atual diretoria está no poder há dois anos, vamos comparar o período com os dois primeiros anos da antiga administração. No slide, temos uma noção ainda maior de como os contratos de TV ganharam importância. Agora, observem a venda de jogadores e vejam que o que era um importante fator de renda para o Flamengo tornou-se praticamente irrelevante. O clube não depende mais da venda de jogadores. O próprio marketing que 10 entre 10 torcedores criticam e, em minha opinião, com toda razão hoje gera muito mais receita. Nos dois anos da gestão atual a receita foi superior a R$ 88milhões, contra R$ 53milhões em toda gestão anterior (3 anos). Se observarmos os balanços dos demais clubes veremos que o negócio futebol cresceu muito, daí a explicação! O grande mérito da atual administração do Flamengo foi ter se livrado da negociação conjunta dos direitos de tv e negociado o contrato individualmente. Do resto, foi beneficiada pelo mercado favorável.


Após uma pausa continuou: 
- Um outro item que chama a atenção é a arrecadação nas bilheterias. 2011 o Flamengo teve a menor receita com venda de ingressos dos últimos 5 anos. O clube arrecadou R$ 3milhões a menos do que o trágico ano de 2010. Ou seja, as campanhas feitas no final do ano passado para  levar a torcida ao estádio parecem que tinham todo sentido.

Despesa
- As receitas precisam ser analisadas em conjunto com as despesas. No caso de um clube endividado, este ponto é ainda mais crítico. O clube precisa gerar bom superavit primário, ou seja, tem que obter uma receita bem superior às despesas para poder quitar os juros. No caso do Flamengo, o crescimento das despesas de 2010 para 2011 (26%) ocorreu em um ritmo menor do que as receitas (43%). No entanto...


- Enquanto a receita bruta com o futebol cresceu praticamente 50%, as despesas subiram 57%. Ou seja, mesmo com um contrato bastante vantajoso na TV, o Flamengo não aproveitou para gerar dinheiro, conseguiu aumentar ainda mais os gastos e a rubrica de despesas gerais foi a que mais cresceu. Sabe-se que  houve investimentos no centro de treinamento. Espero que o grande aumento seja originado de investimentos. ** Espero que o grande aumento tenha sido gerado pelas instalações provisórias no CT (ex: aluguel de equipamentos) e outras derivadas e de caráter temporário.

O professor deu um tempo para os alunos assimilarem o que havia dito e apontou para os gastos com o social e com os esportes amadores.
- Olhem que a parte social e os esportes amadores dão prejuízo. Portanto, o futebol continua bancando o restante do clube, porém muito menos do que em 2010. Se compararmos com o ano anterior, quando o presidente era outro, podemos imaginar o que ocorreu em 2010 foi pontual pela falta de investimento na sede e nos esportes olímpicos durante bastante tempo, uma vez que os valores de 2011 voltaram aos níveis anteriores e em um patamar mais alto, o que é um indicativo de investimento, principalmente pelo recuo das despesas gerais. Para termos uma maior certeza, só aguardando o balanço de 2012.

Patrimônio Líquido


- No Balanço patrimonial de um lado temos os direitos e os bens da empresa, que chamamos de ativos. No outro, as obrigações, que são os recursos de terceiros e que, em contabilidade, chamam-se Passivos, além do Capital Próprio ou Patrimônio Líquido. Até 2010, o Flamengo tinha o que se chama de passivo a descoberto. Ou seja, nem se desfazendo de todo patrimônio e de tudo que o clube teria a receber tornava-se possível pagar todos os compromissos assumidos. Em 2011 isto se reverteu. O Flamengo finalmente voltou a ter um patrimônio líquido positivo.



- O segredo para que isto tenha ocorrido está aqui, na reavaliação imobiliária. Não se costuma fazer uso de expedientes deste tipo, mas no caso do Flamengo os investimentos feitos no CT e na sede social podem justificá-los. No entanto, houve um benefício com uma situação de crescimento exponencial nos valores dos imóveis na cidade. Haverá problema se este fato for uma bolha e estourar. Caso contrário, não vejo maiores problemas, exceto pela dúvida se a avaliação levou em conta características legais, como o de que a sede do clube está em um terreno federal e a venda não seria tão simples assim. Vale a ressalva de que o Flamengo precisará, desde então, fazer a reavaliação de forma periódica.

Endividamento
- Em um clube como o Flamengo, que sabidamente é endividado, quando se divulga o balanço, as primeiras manchetes são sempre sobre o valor da dívida. Isto sempre causa um temor na maioria das pessoas, porque em nossa vida pessoal só costumamos recorrer a empréstimos quando estamos no sufoco e aí pegamos aqueles juros absurdos dos cheques especiais e do cartão de crédito. No entanto, o endividamento é comum no dia a dia das empresas. Quanto maior a empresa, mais acesso a condições especiais de financiamento ela terá. Assim, é possível ter juros inferiores a rentabilidade do próprio negócio. Ou seja, muitas vezes é preferível pegar um financiamento (aqueles de longo prazo, para investir em projetos e ativos permanentes) do que colocar dinheiro próprio no negócio. Assim, o valor do endividamento sozinho, como as manchetes adoram explorar, não diz muita coisa.



- Observem que embora o endividamento do Flamengo tenha crescido, ele é proporcionalmente menor em relação ao faturamento, o que é uma boa notícia. A situação já esteve bem pior do que hoje.


- Outra comparação bastante válida quando falamos em dívida é observar o crescimento relativo a algum indicador. No exemplo, uso a comparação com a taxa de juros básica da economia. Se considerarmos que o Flamengo é um clube altamente endividado, é bastante provável que os juros dos empréstimos do clube sejam obtidos a uma taxa bem superior à Selic. O quadro demonstra que embora a dívida seja crescente, ela tem tido uma aceleração menor do que a Selic, o que representa outro dado positivo.


- No entanto, nem tudo são flores. Ops! Flores? Desculpem-me, mas aí já seria sobre o balanço de outro clube (risos escutados na sala). Vamos voltar o Flamengo... A receita no ano passado cresceu muito acima da taxa Selic, algo bastante incomum para o Flamengo e que não deverá voltar a ocorrer tão cedo. Isto significa que o clube perdeu uma excelente oportunidade de reduzir o endividamento.

Próxima Aula
Ao escutar o sinal, indicando o final da aula, o professor disse:
- Bem, pessoal. Devido ao limite de tempo, continuarei o assunto na próxima aula, quando falarei especificamente sobre os pontos obscuros, as anormalidades e os problemas que aparecem nas demonstrações contábeis do Flamengo. Analisem o que conversamos até aqui e enviem seus comentários. Ficarei no aguardo!

 FLAmém!

* Pacioli - escolhido para ser o nome do professor é uma homenagem a Luca Pacioli, um frei franciscano que é considerado o pai da contabilidade moderna, que, em um livro escrito em 1494 (ou seja, quando o Brasil ainda era dos índios), descreveu pela primeira vez o "método das partidas dobradas", que é a base dos lançamentos contábeis até hoje, segundo o qual todo débito corresponde a um crédito de mesmo valor. A consequência disto é que o total de débitos será sempre igual ao total de créditos e o ativo será igual ao passivo, mas aí já é um post para um blog contábil, certo?

** Não costumo alterar um texto depois de publicá-lo. no entanto, desta vez, fui obrigado porque o trecho anterior (que mantive riscado) levava a uma confusão conceitual. Aproveito para explicá-la. Investimentos não são contabilizados como despesas (não transitam pelo resultado - DRE), mas lançados diretamente em uma conta no ativo permanente (aumenta-se o valor do bem). No entanto, o CT foi utilizado provisoriamente e alguns gastos temporários são contabilizados como despesas. É a estes que pretendia me referir. Agradeço a preciosa colaboração do leitor Diego Milward (@dmilward).

quarta-feira, 2 de maio de 2012

AINDA O SÓCIO TORCEDOR, SEUS MITOS E SUAS CRENÇAS - por Walter Monteiro

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!

Dando continuidade a série de reflexões sobre o Flamengo, o Walter Monteiro nos fala mais sobre os programas de sócio-torcedor, tendo como base os principais programas existentes no Brasil.

Caso queira reler o primeiro capítulo, basta clicar aqui.


FLAmém!

REFLEXÕES SOBRE O FLAMENGO 
PARTE 2
AINDA O SÓCIO TORCEDOR, SEUS MITOS E SUAS CRENÇAS.

No artigo anterior critiquei o movimento de alguns rubro-negros, que depositam todas as suas esperanças na criação de um projeto de sócio torcedor. O curioso é que apenas no Flamengo essa obsessão em atrair mais torcedores sob uma motivação exclusivamente política tem defensores tao ardorosos. Há uma série de programas adotados por nossos rivais e em nenhum dos que analisei a questão do voto tem importância. E alguns são muitíssimo bem sucedidos.

Eu não teria tempo e nem seria o caso de destrinchar, um a um, os programas de todos os clubes brasileiros, nem mesmo se restringisse a pesquisa aos clubes da Série A ou até mesmo aos chamados "12 grandes" (os 4 cariocas, os 4 paulistas, os 2 gaúchos e os 2 mineiros). Adotei um critério, um tanto quanto aleatório, mas com premissas claras.

Escolhi o Vasco, porque é o maior rival local do Flamengo; o Botafogo, porque dizem ser o clube carioca com a administração mais arejada; o São Paulo e o Inter, por serem referências nacionais de práticas de gestão elogiadas e o Corinthians, o clube que luta para roubar do Flamengo a liderança nacional em número de torcedores. É uma amostragem coerente e abrange 1/4 dos times da Série A e a metade dos clubes grandes (incluindo o Flamengo, de quem falarei depois).

A tabela a seguir detalha o que cada um desses clubes enfatiza serem os benefícios dos respectivos programas de sócio torcedor, segundo informa ao dos seus sites oficiais:



É preciso aclarar que a tabela acima faz uma aproximação muito resumida dos benefícios ofertados em cada programa. O Vasco, por exemplo, não oferece quase nada ao sócio torcedor propriamente dito, mas, em compensação, comercializa um plano chamado de "sócio geral" que custa apenas R$ 10,00 a mais e garante os benefícios que descrevi. Botafogo, São Paulo e Corinthians comercializam planos com preços diferenciados, com as versões mais caras contendo "mimos" mais sofisticados, como lugar personalizado no estádio, camisa autografada e vários outros badulaques.

0 mais importante, entretanto, é perceber que apenas Vasco e Inter garantem direito de voto ao sócio torcedor - o Corinthians chega a proibir taxativamente no seu estatuto social que essa categoria tenha direito de voto. 

Só que no Inter e principalmente no Vasco, o tal direito de voto é muito mais simbólico do que efetivo - ou, como se dizia antigamente, é para ingles ver. 

No Inter a eleição é, em principio, indireta. Há um Conselho Deliberativo, formado por membros natos (1/3) e membros eleitos (os 2/3 restantes). Quem quer ser presidente do clube precisa ter cumprido ao menos 1 mandato de conselheiro. E é o Conselho, em princípio, quem elege o Presidente. Se uma das chapas atingir um quórum qualificado (que é um número variável de votos de conselheiros, a depender da quantidade de chapas inscritas), a eleição acaba ali mesmo. Caso nenhuma chapa consiga atingir esse quórum, há um segundo turno entre as duas mais votadas. É só nessa segunda etapa que o sócio torcedor pode dar o ar de sua graça - antes, fica tudo ali entre os 450 conselheiros. 

No Vasco é ainda pior. A eleição é inteiramente indireta, sendo que o Conselho Deliberativo do clube é composto por metade de membros natos. Só a outra metade é eleita. 

Ou seja, o verdadeiro direito de voto que Inter e Vasco efetivamente concedem aos seus respectivos sócios torcedores é o direito de eleger apenas parte do Conselho Deliberativo (2/3 no caso gaúcho, metade no caso carioca), mas, no frigir dos ovos, quem dá as cartas mesmo são os ilustres conselheiros. 

Como se vê, a questão eleitoral NEM DE LONGE é relevante para o sucesso dos programas de sócio torcedor, sendo que na maioria dos casos ela sequer entra em pauta. São os benefícios oferecidos que realmente fazem a diferença. Ou, ainda melhor, é um beneficia central - acesso aos estádios com conforto, preço especial e algum diferencial em relação ao torcedor comum - que determina o sucesso de um programa de sócio torcedor. 

Essa é uma lição a ser aprendida pelas futuras gestões do Flamengo: não adianta lançar com pompa e circunstância projetos audaciosos (como o fracassado Cidadão Rubro-Negro, que guarda semelhanças óbvias com os programas clássicos de sócio torcedor, apenas com uma denominação diferente) se a questão dos ingressos e do acesso aos estádios não estiver no centro das preocupações. 

Ingressos, ingressos, ingressos. Essa é a chave do sucesso, o imã que atrai multidões de futuros associados. Quem percebeu isso, colheu êxito. Amor ao clube, desejo de participar politicamente ou benefícios não muito tangíveis simplesmente não funcionam.

* Por Walter Monteiro - Embaixador Oficial do Flamengo no Rio Grande do Sul, sócio-proprietário do clube (mesmo morando em Porto Alegre) e escreve a coluna Bissexta no Blog Ouro de Tolo.