quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Flamengo que não pode ser – e aquele que tudo poderá por Affonso Romero

Caríssimos irmãos de fé rubro-negra,
Salve, Salve, FLAleluia!

Dando continuidade aos artigos sobre gestão do Flamengo para debate e reflexão sobre que caminhos o clube poderá seguir, transcrevo abaixo um artigo de outro FLAmigo, o publicitário Affonso Romero Dantas. Acredito que daí poderá surgir o Flamengo com que todos sonhamos!


O Flamengo que não pode ser – e aquele que tudo poderá




Qualquer dos grandes clubes brasileiros deveria liderar uma revolução na gestão do nosso esporte. O Flamengo, como time de maior torcida, e maior marca esportiva do País, deveria ter esta transformação como missão obrigatória. Senão por motivo mais nobre, que seja para salvar a si mesmo.

Discute-se bastante a estrutura societária, a democratização do acesso ao voto nos clubes de massa, a transformação em clubes-empresas, a separação entre futebol e clubes sociais, a negociação das dívidas e várias questões que, a meu ver, deveriam ser subsidiárias a um tema mais importante: o modelo de gestão.

Pode-se encontrar, dentre os clubes de sucesso neste hoje mercado global do esporte, variados modelos societários: Milan, Chelsea e Manchester United têm um único controlador, o Barcelona tem dezenas de milhares de eleitores. Qual o modelo mais eficiente? Parece uma pergunta menor, uma vez que se chega ao sucesso por um ou outro caminho. Entretanto, nenhum destes grandes clubes tem uma forma amadora de gestão.

Alguns defensores do amadorismo vão lembrar, com boa parcela de razão, que os clubes brasileiros construíram uma bela história já centenária contando com a gestão abnegada de alguns seus sócios, eleitos para tal. A bem da verdade, durante décadas os grandes clubes europeus também trilharam esta estrada.

O que houve desde então foi uma mudança de paradigma. De duas a três décadas para cá, o esporte – notadamente o futebol – passou a contar com o aporte de recursos de outras vertentes da indústria do entretenimento, entre as quais os conglomerados de comunicação, as empresas fornecedoras de material esportivo e os grandes anunciantes, em meio a processo de crescente globalização.

Ora, o tipo de negócio em que os clubes se viram envolvidos passou a ser desenvolvido por partes desiguais: enquanto as empresas parceiras são representadas por profissionais altamente qualificados, a maioria dos clubes permaneceu representada por dirigentes amadores - com claro prejuízo para os clubes. Por outro lado, as cifras em tais negociações cresceram exponencialmente, sem que tenha havido um mínimo de racionalidade no uso desses recursos por parte dos clubes que não profissionalizaram sua equipe de gestores.

O resultado é um mercado atípico, em que houve uma transferência de ganhos maior à mão de obra do que aos empregadores. Isso se deve ao fato de que o valor médio pago a atletas e técnicos subiu mais do que os ganhos das instituições esportivas, movidos pela passionalidade de dirigentes e pela boa percepção de oportunidade por parte de representantes e empresários. O crescimento dos valores arrecadados, em lugar de aumentar as possibilidades de desenvolvimento destes clubes, ao contrário, provocou um mergulho na desordem financeira e uma situação geral de insolvência.

Enquanto isso, aqueles que deveriam ser os maiores ativos dos clubes - suas marcas e a relação institucional com as massas de torcedores que medem a sua grandeza - em vez de se incrementarem, deterioram. Some-se o crescimento de marcas esportivas estrangeiras e o avanço de outras facetas mais profissionalizadas da indústria do entretenimento para termos uma situação caótica aparentemente irreversível. Pelo menos, sem que haja uma nova mudança de paradigma.

Na coluna que publico na Internet (no blog Ouro de Tolo) eu já havia comentado os achincalhes que o Flamengo anda sofrendo sob o olhar passivo de sua atual Diretoria, até com a colaboração indireta dela. Naquele texto, um caso fortuito com o Diego Maurício, de importância menor, simbolizava o desleixo pela imagem do clube. Eu ainda elencava outros exemplos.

De lá para cá – e em tão curto tempo – o Flamengo colecionou outros descasos até maiores, como a lentidão em contratar um dirigente remunerado para futebol, a interferência sistemática de Vice-Presidentes uns nas áreas de atuação de outros, a declaração do não pagamento de impostos, a revelação de um balanço para lá de confuso e polêmico, a eliminação prematura em todas as competições do futebol no semestre, um período longo sem jogos e poucos treinamentos, a inação e o improviso na contratação de reforços, o debate público acerca de salários em atraso, além de intermináveis declarações oficiais inadequadas.

O Clube de Regatas do Flamengo, glória do esporte nacional, é vítima de um processo de encolhimento institucional (se existisse, a melhor palavra seria “apequenamento”) e exemplo daquilo que não deve ser feito na gestão de instituições congêneres. Vou evitar o lugar-comum da crítica fácil às pessoas que vêm dirigindo o clube nos últimos anos.

Conheço algumas delas, e dentre elas várias pessoas de bem, alguns inclusive muitíssimo bem sucedidos em suas vidas pessoais e profissionais.

Mesmo aqueles que têm experiência, conhecimento técnico e capacidade intelectual para atuar nas muitas atividades da gestão de um clube, costumam falhar quando fazem o papel do dirigente esportivo voluntário: misturam a paixão e a razão, o imediatismo e o necessário planejamento estratégico, o compromisso para com a instituição e as obrigações pessoais privadas, o administrador e o torcedor.

O Flamengo faz péssima gestão de sua marca, é comumente associado a escândalos, brigas internas políticas inócuas, desrespeito a hierarquias, processos confusos, contratos mal alinhavados e raramente cumpridos, um ambiente e uma cultura interna que, sinceramente, dificilmente poderia vir a atrair parceiros confiáveis e interessados na obtenção conjunta de resultados positivos numa relação estável e segura.

No momento em que começa a se desenhar o quadro eleitoral cujo desfecho se dará no final do ano, quando da eleição da Diretoria para o próximo triênio, vê-se candidatos divididos entre aqueles que pretendem perpetuarem-se num grupo de poder que se metamorfoseia para manter-se igual ou aqueles que se apresentam de forma novidadeira como representantes de uma pseudo-mudança, ainda que reproduzindo discursos, perfis e hábitos antigos.

Parece bastante claro que uma mudança passa, necessariamente, pela determinação em dar ao clube um choque de gestão profissional incondicional. Há, para a Diretoria eleita, um espaço político necessário e útil, qual fosse o respaldo institucional, o estabelecimento de metas, a contratação de uma equipe de gestores profissionais, a avaliação dos resultados obtidos em médio prazo e a validação ou redefinição das soluções adotadas, em períodos e ciclos pré-configurados.

Caberia à equipe de gestores profissionais tomar as decisões administrativas, decidir sobre cada uma das questões pertinentes às mais diversas atividades do clube, traçar planos executivos, preparar e gerir contratos, explorar oportunidades, negociar com atletas e seus representantes, valorizar a marca e otimizar todas as tarefas de gestão. Tudo isso com autonomia delegada e sob regras predeterminadas de governança corporativa, palavra chave neste novo momento.

O Flamengo estaria em conformidade com seu atual Estatuto, com a Diretoria eleita cumprindo sua missão de definir ONDE o clube deve chegar (objetivos) e um grupo de gestão profissional definindo COMO chegar (gestão) a tais metas, sob regras claras, sem sobressaltos ou interferências políticas cotidianas, com transparência de ação, num ambiente negocial de alto nível.

Este não é um caminho a ser adotado pelo Departamento de Futebol, nem por este ou aquele setor, mas pela instituição por inteiro, sob a liderança politica de um Presidente que tenha a grandeza de saber delegar a gestão cotidiana a um grupo de profissionais liderado por um CEO (ou outro nome que se queira dar ao cargo) com formação sólida, compromisso com o resultado, método administrativo, experiência em gestão de instituições de grande porte e uma equipe bem articulada. Ou seja: um choque de gestão profissional.

O problema real consiste em conciliar, num grupo a ser eleito para liderar esta revolução, paixão pelo Flamengo e a clara noção de que esta mesma paixão inviabiliza uma gestão racional. Conciliar conhecimento profundo da questão e humildade para abrir mão da gestão direta sobre os dilemas cotidianos.

A minha impressão pessoal é que ao cruzar as portas do clube, o torcedor-dirigente típico não se contém e se sente obrigado a interferir, participar, aparecer, falar além da conta – mesmo aqueles que antes se diziam comprometidos com a ideia de profissionalização. No fundo, o torcedor que habita em nós faz com que todos queiram “escalar o time” quando detém poder para tal.

O Presidente hipoteticamente ideal deveria ser “impedido” de entrar no clube, sentar à mesa, resolver qualquer assunto do dia-a-dia. Que dê as diretrizes, avalie e reconduza a médio prazo, mas não interfira na ação.

Este é o modelo ideal a meu ver. Já passou da hora de fazermos uma Revolução Rubro-Negra. Vamos a ela.

por Affonso Romero Dantas - publicitário e sócio-proprietário do Flamengo


FLAmém!

PS: Texto publicado originalmente no Blog Ouro de Tolo

4 comentários:

  1. Affonso,

    Quase perfeito, seu texto. Tenho certeza que seria uma bela maneira de fazer do Mais Querido o que ele nunca deveria ter deixado de ser, O líder. Não só na forma de gerir, mas também na paixão das pessoas.

    A crítica fica por conta da forma com que as palavras foram dispostas. Não podemos esquecer que somos apenas 6% da população deste imenso e eclético povo de maioria ignorante, sendo assim, suas palavras só serão entendidas por apenas esse pequeno universo. Universo que não decide nada se os embates forem feitos seguindo as regras / leis.

    O choque de gestão profissional seria a solução, uma bela solução.

    Mas é no fim onde seu texto atinge o ápice. Não é perfeito, como disse antes, mas nos três últimos parágrafos você mostra que com paixão e sem humildade o choque passa a ser uma singela faísca.

    Não é perfeito porque você se esqueceu de mencionar alguns fatores de extrema importância sem os quais o choque não acontecerá:

    AUSÊNCIA DE EGO

    HONESTIDADE

    SERIEDADE

    Saudações,

    @Papo_de_Cozinha

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  2. Temos aqui mais uma análise, digamos, profissional das mazelas do Flamengo e daquilo que poderia revolucionar o MAIS QUERIDO CLUBE DO BRASIL. Na minha ótica, desde que o Flamengo foi campeão mundial interclubes em 1981, justamente por falta de profissionalismo e, muitas vêzes, por interesses escusos, não se alavancou o clube ao status de grande potência do futebol mundial. E todas as análises que vêm sendo feitas, de forma mais objetiva, como a do publicitário Affonso Romero Dantas, acabam nos conduzindo a questões simples: ELEIÇOES, CONSELHO DELIBERATIVO e ESTATUTO DO CLUBE. Estou cansado de, em época de eleições, observar o surgimento de grupos políticos geralmente encabeçados por sócios-proprietários, quais sejam empresários, profissionais liberais, etc, dos quais a torcida jamais ouviu falar, nem tão pouco soube de algo importante que tenham feito pelo Flamengo. Verdadeiros desconhecidos ou quase isso, e que jamais implantaram no Flamengo uma grande e profissional mudança, que ouvisse também as idéias e anseios dos mais de 35 milhões de rubro-negros. Talvez seja essa a razão pela qual se vê, principalmente em redes sociais, como o FACEBOOK por exemplo, manifestações pró chapa presiencial contendo nomes como LEONARDO, ZICO, JUNIOR, PETKOVIC, entre outros. Esse é um sintoma claro de que a NAÇÃO RUBRO-NEGRA, está cansada da mesmice de décadas a fio. Está cansada de grupos, digamos, elitizados que se perpetuam na direção do clube, havendo apenas a mudança dos grupos nas eleições. O clamor da torcida por nomes como o de ZICO e LEONARDO, é justamente o anseio por mudanças muito mais profundas, profissionalizando e democratizando o clube, para que ele seja alçado, definitivamente, ao lugar mais alto reservado aos GRANDES CLUBES MUNDIAS!!! SRN!!!

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  3. Amigos, antes de tudo, obrigado pelos comentários, pela adesão à ideia e pelo apoio. Para começar, já tinha ficado muito feliz que um post meu em outro blog (o Ouro de Tolo) tivesse ganho a atenção de outros espaços. Muita gente, através deste blog e pelos mais diversos caminhos, sugeriu que eu empunhasse a bandeira e me lançasse candidato à sucessão no Flamengo. Sou sócio, tenho condições estatutárias para tal, mas não é tão simples e fácil. Até por coerência com o que eu penso e escrevo, eu não tenho a pretensão messiânica e personalista dos candidatos tradicionais do clube. Não é por aí. Para que este conceito virasse realidade seria necessário que a ideia fosse abraçada pela Nação Rubro-Negra. Sócios e não-sócios, se houvesse gente interessada em apoiar a IDEIA, ela seria invencível. Se isso acontecesse - e isto é a busca de um "milagre impossível" - eu não me oporia a colaborar. Mas volto a afirmar: eu não acredito em messianismo individual, nem meu, nem de ninguém. Se a ideia é boa, vamos trabalhar por ela. Quem topa?

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  4. Meus caros, Afonso e o Anônimo do comentário de 08h44min00s

    Sobre o segundo, tenho apenas a corroborar suas poucas e exatas palavras.

    Ao final de 1981 os gestores da época e seguintes perderam a enorme, maior, talvez única oportunidade de fazer do Mais Querido do País o Mais Querido do Mundo.

    O Japão abria as portas para o nosso futebol e literalmente abria as
    pernas para Zico.

    Apesar de já existiram, os clubes europeus ainda não haviam invadido os corações do mundo, inclusive Brasil (dito na época como o melhor futebol do mundo) onde hoje vemos torcedores de TODAS as idades vestindo suas camisas.

    As avenidas, ruas, ruelas, travessas, becos, etc. estavam escancarados para nosso crescimento.

    E o que fizeram os experts da época. Perderam o bonde. Tal qual os TGVs de hoje o bonde passou na cara daquela quadrilha.

    E essa corja vem se perpetuando desde então sob o véu frágil de palavras enganosas em busca de novas oportunidades para erguer o Flamengo, quando na realidade todos sabemos o que querem.

    Affonso se seu caráter é exatamente o que se lê em suas palavras, dentro do atual quadro que vem sendo pintado, sua candidatura, na carona de seus textos é a menor das incoerências. É a menor das falcatruas, o menor dos conchavos e tremendamente insignificante diante da roubalheira que assola nosso Flamengo.

    Saudações

    @Papo_de_Cozinha

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Obrigado por dar sua opinião. Nesta Igreja, devoto tem voz, afinal o Flamengo somos nós!