Salve, Salve, FLAleluia!
Dando continuidade a série de reflexões sobre o Flamengo, o Walter Monteiro nos fala mais sobre os programas de sócio-torcedor, tendo como base os principais programas existentes no Brasil.
Caso queira reler o primeiro capítulo, basta clicar aqui.
FLAmém!
REFLEXÕES SOBRE O FLAMENGO
PARTE 2
AINDA O SÓCIO TORCEDOR, SEUS MITOS E SUAS CRENÇAS.
No artigo anterior critiquei o movimento de alguns rubro-negros, que depositam todas as suas esperanças na criação de um projeto de sócio torcedor. O curioso é que apenas no Flamengo essa obsessão em atrair mais torcedores sob uma motivação exclusivamente política tem defensores tao ardorosos. Há uma série de programas adotados por nossos rivais e em nenhum dos que analisei a questão do voto tem importância. E alguns são muitíssimo bem sucedidos.
Eu não teria tempo e nem seria o caso de destrinchar, um a um, os programas de todos os clubes brasileiros, nem mesmo se restringisse a pesquisa aos clubes da Série A ou até mesmo aos chamados "12 grandes" (os 4 cariocas, os 4 paulistas, os 2 gaúchos e os 2 mineiros). Adotei um critério, um tanto quanto aleatório, mas com premissas claras.
Escolhi o Vasco, porque é o maior rival local do Flamengo; o Botafogo, porque dizem ser o clube carioca com a administração mais arejada; o São Paulo e o Inter, por serem referências nacionais de práticas de gestão elogiadas e o Corinthians, o clube que luta para roubar do Flamengo a liderança nacional em número de torcedores. É uma amostragem coerente e abrange 1/4 dos times da Série A e a metade dos clubes grandes (incluindo o Flamengo, de quem falarei depois).
A tabela a seguir detalha o que cada um desses clubes enfatiza serem os benefícios dos respectivos programas de sócio torcedor, segundo informa ao dos seus sites oficiais:
É preciso aclarar que a tabela acima faz uma aproximação muito resumida dos benefícios ofertados em cada programa. O Vasco, por exemplo, não oferece quase nada ao sócio torcedor propriamente dito, mas, em compensação, comercializa um plano chamado de "sócio geral" que custa apenas R$ 10,00 a mais e garante os benefícios que descrevi. Botafogo, São Paulo e Corinthians comercializam planos com preços diferenciados, com as versões mais caras contendo "mimos" mais sofisticados, como lugar personalizado no estádio, camisa autografada e vários outros badulaques.
0 mais importante, entretanto, é perceber que apenas Vasco e Inter garantem direito de voto ao sócio torcedor - o Corinthians chega a proibir taxativamente no seu estatuto social que essa categoria tenha direito de voto.
Só que no Inter e principalmente no Vasco, o tal direito de voto é muito mais simbólico do que efetivo - ou, como se dizia antigamente, é para ingles ver.
No Inter a eleição é, em principio, indireta. Há um Conselho Deliberativo, formado por membros natos (1/3) e membros eleitos (os 2/3 restantes). Quem quer ser presidente do clube precisa ter cumprido ao menos 1 mandato de conselheiro. E é o Conselho, em princípio, quem elege o Presidente. Se uma das chapas atingir um quórum qualificado (que é um número variável de votos de conselheiros, a depender da quantidade de chapas inscritas), a eleição acaba ali mesmo. Caso nenhuma chapa consiga atingir esse quórum, há um segundo turno entre as duas mais votadas. É só nessa segunda etapa que o sócio torcedor pode dar o ar de sua graça - antes, fica tudo ali entre os 450 conselheiros.
No Vasco é ainda pior. A eleição é inteiramente indireta, sendo que o Conselho Deliberativo do clube é composto por metade de membros natos. Só a outra metade é eleita.
Ou seja, o verdadeiro direito de voto que Inter e Vasco efetivamente concedem aos seus respectivos sócios torcedores é o direito de eleger apenas parte do Conselho Deliberativo (2/3 no caso gaúcho, metade no caso carioca), mas, no frigir dos ovos, quem dá as cartas mesmo são os ilustres conselheiros.
Como se vê, a questão eleitoral NEM DE LONGE é relevante para o sucesso dos programas de sócio torcedor, sendo que na maioria dos casos ela sequer entra em pauta. São os benefícios oferecidos que realmente fazem a diferença. Ou, ainda melhor, é um beneficia central - acesso aos estádios com conforto, preço especial e algum diferencial em relação ao torcedor comum - que determina o sucesso de um programa de sócio torcedor.
Essa é uma lição a ser aprendida pelas futuras gestões do Flamengo: não adianta lançar com pompa e circunstância projetos audaciosos (como o fracassado Cidadão Rubro-Negro, que guarda semelhanças óbvias com os programas clássicos de sócio torcedor, apenas com uma denominação diferente) se a questão dos ingressos e do acesso aos estádios não estiver no centro das preocupações.
Ingressos, ingressos, ingressos. Essa é a chave do sucesso, o imã que atrai multidões de futuros associados. Quem percebeu isso, colheu êxito. Amor ao clube, desejo de participar politicamente ou benefícios não muito tangíveis simplesmente não funcionam.
* Por Walter Monteiro - Embaixador Oficial do Flamengo no Rio Grande do Sul, sócio-proprietário do clube (mesmo morando em Porto Alegre) e escreve a coluna Bissexta no Blog Ouro de Tolo.
Walter,
ResponderExcluirRatifico meus comentários no texto anterior.
Saudações,
@Papo_de_Cozinha
O Flamengo não pode ter o seu programa de sócio-torcedor? Ou tem que fazer igual aos outros. Discordo dos argumentos usados, parece até que o Walter é contra se criar uma nova modalidade com direito a voto. @blogserflamengo
ResponderExcluirSou a favor que o Flamengo tenha um programa de sócio-torcedor. Apenas alerto que há uma ilusão de que a solução dos nossos problemas viria daí, porque não haverá adesão em massa se esse programa não for muito bem planejado.
Excluir@FLA_RS