terça-feira, 18 de maio de 2010

Uma Confusão dos Infernos


Caríssimos irmãos de fé Rubro-Negra (eu disse Rubro-Negra)
Salve, Salve, FLAleluia!

São Judas Tadeu caminhava apressadamente pelos jardins celestiais. Entrou em uma bela mansão, dirigiu-se a um dos anjos que ali pairavam, perguntando em qual estação as imagens de Salvador estavam sendo captadas. O anjo apontou para um pequeno auditório, para onde o Santo se dirigiu.

Ao chegar, havia uma pequena platéia acomodada em suas poltronas. São Judas Tadeu, escolhendo onde sentar, encosta seu machadinho e pergunta em seu já tradicional carioquês:
- Aeeeh, galera do bem, já começou mais um show Rubro-Negro?
Alguém responde que os times já estão em campo. São judas Tadeu, olha para o telão, observa.... observa.... observa.... e exclama:
- É... podeeissx crê. Finalmente, o Rogério prestou atenção quando apareci em seus sonhos. Eu lhe pedi para escalar os reservas. Mas... acho que ele exagerou, não estou reconhecendo ninguém desse nosso time!
Passados mais alguns minutos, com o jogo já se iniciando, São Judas Tadeu pega seu machado, batendo-o levemente no braço de sua poltrona e eis que surge uma pequena tela de LED, onde o Santo toca no visor, fazendo vários movimentos, cada vez mais apressados, até que, não resistindo, grita:

- ó u auê aí ó! Pó pará! Que diabos está ocorrendo aqui? Quem foi o vacilão?
Ao pronunciar o nome do “coisa ruim”, ouve-se um assustador trovão. Todos olham para a porta que se abre. São Pedro aparece, querendo saber o que aconteceu. Afinal, o Chefe não havia gostado nem um pouco de escutar o nome do rival sendo proferido em sua própria morada.
- Peça-Lhe desculpas em meu nome, Pedrão! - Fala São Judas Tadeu, meio constrangido, meio indignado – É que algum mané sintonizou um jogo entre Flamengo e Boca Juniors que desconheço. Queria assistir à partida contra o Vitória pelo Brasileirão de 2010. Já fiz diversas pesquisas aqui e não descobri quando ocorreu essa disputa que está sendo transmitida, com esses jogadores que estão em campo com o nosso manto. O mais eisxtranho é que parece que tem gente nossa jogando pelo inimigo. Tão aprontando prá cima de mim!
São Pedro diz que cabe a eles se entenderem, mas que, mesmo assistindo a um jogo de futebol, precisam ter cuidados com a linguagem, afinal estão em um local de extremo respeito. Assim que ele sai da sala, alguém lá do fundo diz:

- O Flamengo é o outro, ó pá!
Era São Januário se divertindo com o desespero do colega. São Judas Tadeu entende, finalmente, que o Flamengo não estava com o tradicional manto vermelho e preto, mas com seu novo terceiro uniforme. Nota, também, que seu colega lusitano estava dando o troco nas zoações feitas quando os vices-da-gama jogaram com a camisa do “aqui jaz” (foto publicada no site Bola nas Costas – autor da montagem: Rogério Silva).

Para rebater, o Santo RubroNegro puxa pela memória e tenta mostrar aos demais que o uniforme era o resgate de uma tradição, que era uma homenagem ao primeiro uniforme da história do clube. Mas, nem ele mesmo se convence! “Ora, afinal usávamos essas cores quando éramos menores do que o Tabajaras FC”, pensou! Tabajaras? Bingo! Só podia ser coisa do Bussunda. O cara estava aprontando de novo!

Com enorme esforço, São Judas Tadeu passou a acompanhar o jogo. Foi quando o Flamengo fez seu primeiro ataque com perigo e ele, numa pequena intervenção, evitou o gol. O Santo já estava torcendo pelo time errado. Para não debocharem dele ainda mais, evitou falar e apenas pensa: “Ô diabo, só pode ser coisa do capeta, que confusão dos infernos, eu acabo de salvar um gol do Flamengo, não estou gostando nada disso”.

Eis que escutam um novo trovão, ainda mais forte e assustador. Rapidamente começa a chover. Ele havia esquecido que o Chefe podia ler pensamentos. Antes que o campo ficasse alagado, nova ajudazinha. Graças às tranças do Love, percebeu que o ataque era do Mengão e fez com que o goleiro espalmasse em cima da barriga de nosso atacante do amor. Gooooooool!
Pronto, agora o campo ficaria encharcado. Não haveria mais jogo! Três pontos garantidos! Só precisava ficar atento para ninguém se machucar.

Campo alagado, não deu outra! Não teve mais futebol e o jogo ficou monótono, tão monótono que o Santo das Causas Impossíveis pegou no sono. Acordou, tempos depois, com o grito de:
- Faaaaaltaaaaaa!
Olhou para a tela, viu que o tempo de jogo estava acabando e observou a cobrança. Ainda sonolento, São Judas Tadeu confundiu-se, mais uma vez, com as cores do Flamengo e fez com que o Bruno, que ia fazendo uma ótima defesa, espalmasse a bola para dentro da própria meta!

Quando olhou em volta, todos os outros Santos comemoravam! Era o gol de empate do Vitória. E, obtido, graças à Sua Santa ajuda. Blasfêmia! Assim, envergonhado, ele pega seu machado e tenta sair na maciota, antes que alguém pudesse perceber. Não sem torcer desesperadamente para que o Flamengo aposente rapidamente essa jogada de marketing. Não costuma aprovar invencionices na tática, quanto mais no manto.

Entretanto, ao cruzar a porta ainda foi possível escutar:
- Óxente, bichinho! Ó ómi de Deus, não é preciso ficar invocado... Vai ver que o jogo não valia nada. Quem sabe não era apenas uma partida comemorativa de alguma edição histórica do MONTBLÄAT, por isto vestiram o Flamengo com a bandeira da Suécia. Será que na próxima o Magu será escalado? – Provoca, Padim Ciço!
(NR: Magu é o apelido do fictício jornalista Haral Magnussen, personagem criado pelo jornalista Fritz Utzeri, que trabalha como correspondente no Brasil do jornal sueco Montbläat)
Eu não gostei do terceiro uniforme! Sou Rubro-Negro! E você?
FLAmém!
PS: Crônica escrita especialmente para o jornal Montbläat

Um comentário:

  1. Esse foi o MELHOR texto que li sobre o uso desse uniforme 3! Eu nao consegui VER o jogo, só ouvir, pq visualmente ele me provocou uma grande confusão!
    Perfeito! Parabens pela criatividade, Jeff! Captou o espírito da coisa geral! ;)
    SRN

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